sábado, 8 de setembro de 2012

Se não viu, veja! - Coraline e o Mundo Secreto (2009)

Será que existe um mundo perfeito?


E aí galerinha entediada na net, como vão as coisas?

Pois é meus queridos, como vocês bem sabem, (quase) toda semana temos alguma indicação de filme/game/HQ/série/livro/o-que-nos-der-na-telha, e se este post está sendo publicado, é porque hoje é dia de mais uma indicação bacanuda! (Mentira. Se esse post está sendo publicado é simplesmente pra não deixar o site desatualizado por muito tempo. Uma mera desculpa para entreter vocês.)

E hoje, a indicação é a animação Coraline (Coraline e o Mundo Secreto, no Brasil), de 2009, dirigida por Henry Sellick (de O Estranho Mundo de Jack), baseado no livro homônimo de Neil Gaiman (roteirista da aclamada HQ Sandman).

Na trama, somos apresentados a pequena Coraline (dublada pela não-tão-pequena Dakota Fanning), uma garota levada e aventureira que acabou de se mudar com os pais para o hotel Palácio Rosa, lar de muitas outras figuras misteriosas e estranhas que não me cabem citar agora. Sobrecarregados com o trabalho, os pais de Coraline não encontram tempo para dar a devida atenção à garotinha, que passa a desejar do fundo do coração que tudo isso se conserte de uma vez. E em meio a estes desejos, eis que surge uma pequena porta na parede, que leva a um mundo onde tudo é perfeito. Bem, nem tudo...


Mesmo sendo uma animação stop-motion (estilo de animação onde são fotografados pequenos bonecos frame por frame, que posteriormente são animados e tratados via computador), Coraline é uma das mais belas animações que eu já vi em minha curta vida, visualmente falando. Em certas partes do filme você até esquecerá que se tratam de bonecos reais fotografados e animados frame por frame e começa a achar que se trata de mais uma animação da Dreamworks ou da Pixar, devido ao trabalho excepcionalmente bem feito da equipe de produção do filme. O tom sombrio da animação remete muito ao aclamado (mas não por este que vos escreve) diretor/roteirista Tim Burton, mais especificamente à O Estranho Mundo de Jack. O que não é de se espantar, já que o diretor de Coraline também dirigiu a clássica animação roteirizada por Tim Burton. Mesmo com todos essas semelhanças à Tim Burton, Henry Sellick consegue ser um Tim Burton ainda melhor que o original. Deu pra entender? Então vou tentar explicar: todos sabemos (e se você não sabia, agora saberá) que a marca registrada dos filmes em que Tim Burton está envolvido é o visual sombrio acompanhado de um roteiro levemente infantil. Henry Sellick conseguiu melhorar esses elementos de modo que Coraline seja tão sombrio quanto infantil, encontrando um bom equilíbrio entre o suspense e a aventura. Um pouco mais para um dos lados e Coraline pode se tornar algo totalmente diferente da proposta original. Ainda assim, Coraline constrói sua própria identidade visual, abusando de todo o charme que o stop-motion pode oferecer, tornando-o algo assustadoramente lindo.


Ainda que de longe não aparente, Coraline não busca apenas ser uma animação leve e pueril. Existem muitos elementos de roteiro que remetem muito à clássica fórmula dos filmes da Pixar, que conseguem emocionar e entreter desde os mais novos dos espectadores até os mais velhos e experientes fãs de cinema. Aqui em Coraline você verá muito do que já deve ter visto em filmes como Wall-E e Up, por exemplo, só que com uma gota de mistério e suspense. Porém, se você está esperando por cenas animadíssimas e empolgantes, é melhor ir com mais calma ao pote. Infelizmente (ou felizmente, talvez), esse não é o foco principal de Coraline. Por muitas vezes você irá se perguntar "Este é mesmo um filme para crianças?". Quando convém, o roteiro mostra uma maturidade raramente vista nas animações que vemos por aí, discutindo questões como o sentimento de abandono das crianças e a fuga da realidade, este último abordado com mais frequência. Remetendo a pergunta feita no início do post, Será mesmo que existe  um mundo perfeito? Será mesmo que há um lugar onde possamos ser felizes eternamente, onde tudo é como sempre desejamos? O seria isso apenas uma ilusão, uma mera utopia que não podemos alcançar? E outra pergunta ainda melhor: será que já não vivemos nesse tal "mundo perfeito" e ainda não percebemos? Mesmo sendo uma animação infantil, Coraline aborda esses questionamentos de uma formal ótima e sutil, pra não perder muito o brilho que atrai a criançada. Claro, todos os créditos pelo roteiro original vão para Neil Gaiman, autor do livro cujo o qual a animação foi inspirada, mas, mesmo sem ter lido o livro, eu aposto uma moeda que a animação não fica muito atrás da obra original.


Os personagens de Coraline são bastante cativantes, a começar pela própria Coraline, que consegue conquistar tanto o mais birrento dos garotos, que não que quer ver filme "com uma menininha na capa", quanto o mais incrédulo dos críticos de cinema, que ficam analisando os ângulos de câmera, iluminação, fotografia e todo esse bla-bla-bla tecno-científico sobre cinema, com toda a coragem e esperteza de um menino, mas sem perder a delicadeza e a beleza de uma menina. E com seu incomum "sorriso torto" também.O maior ponto fraco do filme (talvez até o único, em minha singela opinião fecal) é que, em detrimento do brilho da protagonista, muitos dos outros personagens secundários do filme tenham que sumir e/ou apenas servir como "escada" para levantar (ainda mais) a pequena Coraline. A não-tão-bela amizade entre o atrapalhado Wyborne Lovat e a jovem Coraline poderia ter sido mais explorada, mostrando mais trapalhadas e aventuras com eles. Mesmo com personagens que infelizmente somem ou que não são aproveitados como poderiam (e deveriam) ser, a animação não deixa de agradar.


Assim como o resto do filme, a trilha sonora tem um tom mais calmo e sóbrio, com musicas mais soturnas e sutis, que estão lá, no cantinho do filme, só esperando pelo momento certo de estourar os tímpanos do espectador em uma cena mais movimentada. Isso sem contar as belas faixas cantadas, principalmente esta, que é cantada em um idioma estrogonoficamente desconhecido e que não vem ao caso agora. Apenas ouça:


Bem, acho que já deu não é?

Tá na hora daquela velha e boa nota. -> 9.0/10

Para aqueles que não se sentiram "intimados" a ver o filme, ou para aqueles que não gostam de animação (sim, existe esse tipo de pessoa. Monstros sem coração!), Coraline é um filme tão denso e obscuro quanto qualquer outro drama que há por aí, e com certeza mais bonito e cativante que todos eles. Portanto, se você  ainda não assistiu Coraline, ou simplesmente não tem mais o que fazer e quer ver um bom filme, abra a porta que há na sua parede e deixe a pequena Coraline entrar. Aposto uma moeda que você não irá se arrepender. Ou não né... Vai que você é um daqueles monstros sem coração...

Por Breno Barbosa

Nenhum comentário:

Postar um comentário