segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

[ESPECIAL] O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel (Parte 1)

O mundo está mudando...


"Tudo começou com a forja dos Grandes Anéis. Três foram dados aos Elfos, imortais, os mais sábios e belos de todos os seres; Sete, aos Senhores-Anões, grandes mineradores e artífices dos corredores das montanhas; E nove, nove Anéis foram presenteados à raça dos Homens, que, acima de tudo, deseja o poder. Pois dentro desses Anéis foi selada a força e a vontade para governar cada raça. Mas todos foram enganados, pois outro Anel foi feito. Na terra de Mordor, nas chamas da Montanha da Perdição, Sauron, o Senhor do Escuro, forjou em segredo um Anel-Mestre, para controlar todos os outros. E neste Anel ele derramou sua crueldade, sua malícia e sua vontade de dominar todas as formas de vida. Um Anel para a todos governar."

São com esses dizeres de A Sociedade do Anel de Peter Jackson que eu dou início a este pequeno especial em homenagem a estreia de O Hobbit: Uma Jornada Inesperada nos cinemas, e também a toda a obra literária escrita por J. R. R. Tolkien há mais ou menos 70 anos atrás.

A Sociedade do Anel (The Fellowship of the Ring), primeiro livro da trilogia O Senhor dos Anéis de Tolkien, foi publicado originalmente 1954, junto com o segundo livro da trilogia, As Duas Torres (para aqueles que não sabem, Tolkien planejava publicar O Senhor dos Anéis como uma obra única, mas, a pedido de seus editores, acabou tendo que dividi-lo em 3 livros, a fim de baratear os custos de sua publicação), e serve como uma sequência direta para o primeiro grande sucesso de Tolkien, o livro infantil O Hobbit, que foi publicado em 1937.

A Sociedade do Anel dá início a jornada de Frodo Bolseiro, sobrinho de Bilbo Bolseiro (protagonista de O Hobbit), em busca da lendária Montanha da Perdição, onde o jovem hobbit deveria destruir o Anel do Poder, um poderoso artefato criado por um lorde nefasto há muitas eras atrás, e que agora havia mais uma vez se erguido para tomar a Terra Média. Para realizar tal contenda, Frodo precisava de companheiros, e então foi formada a Sociedade do Anel, uma aliança composta pelos mais bravos guerreiros de cada raça da Terra Média, e que deviam acompanhar Frodo em seu caminho até a Montanha da Perdição.


Não é preciso ser onisciente pra pelo menos ter ouvido falar em Senhor dos Anéis. Tanto a obra literária quanto suas adaptações causaram (e ainda causam) um grande alarde ao redor do mundo todo. Crianças, jovens, adultos e idosos do mundo tudo já tiveram a oportunidade de ler os livros de Tolkien. Se não, já devem ter escutado as radio-novelas, ou assistido as peças de teatro, ou terem visto os desenhos animados e etc., afinal, não foi só na literatura que a obra de Tolkien fez sucesso. Diversas adaptações para todos os tipos de mídias foram criadas baseadas em sua obra, sendo a mais bem sucedida delas adaptação feita para cinema por Peter Jackson, em meados dos anos 2000. Diferente de muitas outras obras literárias, O Senhor dos Anéis havia se tornado tão popular que acabou sobrevivendo através das épocas, servindo como inspiração e referência não só para outras obras referentes à mídia, mas também para muitas pessoas que se apaixonaram pela Terra Média, uma vez que se aventuraram nela através das palavras de Tolkien. Até mesmo o aclamadíssimo George Lucas, criador da saga Star Wars, admitiu que o grande trabalho de sua vida teve inspiração na obra de J. R. R. Tolkien. E se você prestar bastante atenção, poderá ver traços da literatura de Tolkien em várias outras obras não só do cinema, mas também na música, na televisão, nas histórias em quadrinhos, nos games e também na literatura. Principalmente nesta última. Se você já teve a oportunidade de ler As Crônicas de Gelo e Fogo (livro que foi adaptado para TV no seriado Game of Thrones, já comentado aqui no blog), de George R. R. Martin, com certeza deve ter notado alguns elementos da literatura de Tolkien na obra de Martin.

Porém, mesmo tendo uma criatividade de dar inveja a qualquer um, Tolkien não tirou todo um universo de dentro de uma cartola mágica. Grande parte de sua obra tem inspiração na mitologia nórdica. O Um Anel foi inspirado no Anel de Nibelungo, e o próprio Gandalf nada mais é do que uma personificação do deus Odin, que em algumas culturas é conhecido como "O Viajante". Tolkien também foi um grande religioso da igreja católica, e sua fé também serviu de influência para sua obra. O Um Anel que Frodo carrega consigo durante os livros pode ser visto como uma referência à cruz carregada por Jesus Cristo em seus últimos momentos de vida. Sua obra também foi fortemente influenciada pelas duas Grandes Guerras, nas quais a primeira Tolkien participou ativamente, e a segunda teve a participação de seu filho, Christopher Tolkien, que terá uma grande importância para obra literária de Tolkien posteriormente. Além de professor universitário, Tolkien também foi um exímio filólogo, o que ajudou bastante na criação dos variados dialetos vistos em sua literatura, como a língua dos elfos e o idioma dos anões, ambos criados unica e especificamente para seus livros.


Apesar de O Senhor dos Anéis ter permanecido na cabeça de muitas pessoas mesmo depois de anos de sua publicação original, foi a adaptação para cinema idealizada e realizada por Peter Jackson que trouxe a obra de Tolkien de volta ao topo do mundo. Jackson conseguiu transportar para as telonas o que muitos alegavam ser impossível de se adaptar, tanto por causa da narrativa arrastada de altamente descritiva de Tolkien quanto pelo mundo o qual dava lugar à aventura. Teoricamente, não havia dinheiro e nem tecnologia suficientes para reproduzir a Terra Média em uma produção cinematográfica, mas, de algum jeito maluco, Peter Jackson alegava que era possível sim fazer Senhor dos Anéis para o cinema. Então o diretor começou sua busca por um estúdio para bancar a produção. Quase todos deram as costas para ideia de Jackson, todos com a mesma resposta: "Mano, essa parada não vai dar certo". E aí que entra a New Line Cinema, que resolveu dar uma chance à Peter Jackson, e recomendou ao diretor que adaptasse os livros de acordo como eles eram: divididos em três partes sequenciais. A fim de baratear os custos com locações e elenco, Jackson propôs gravar a trilogia de uma só vez, e lança-la na janela de tempo de 2001 à 2003, onde cada ano receberia um novo filme.

Em 19 de Dezembro de 2001, estreava nos EUA O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel, e os cinemas vieram abaixo. Depois da trilogia de Star Wars, ninguém nunca havia visto uma produção daquele tamanho e com toda aquela qualidade na tela de uma sala de cinema. O impossível havia se tornado possível, e a New Line Cinema faturou quase 900 milhões de dólares com o filme, que custou aproximadamente 90 milhões. Um bom lucro, não? Foi aí que Peter Jackson deve ter virado para todas as produtoras que lhe deram as costas e dito um alto e sonoro (perdão pelo termo) "CHUPA!" à todas elas.


No que diz respeito a visual, nunca se havia visto tanto capricho e esmero em um filme até a chegada de Senhor dos Anéis. Em seus livros, Tolkien costumava ser bastante descritivo, e gostava de dissecar minuciosamente toda e qualquer imagem que apresentava em seu texto, fosse ela um grande palácio ou uma simples árvore no meio de uma floresta. Isso ajudou bastante na hora de criar toda a parte estética do filme. 99% de todos os itens, apetrechos, roupas, armas e cenários foram criados do zero pela produção de Guillermo Del Toro, que contava com ninguém menos que John Howe e Alan Lee, os dois principais ilustradores da obra de Tolkien, como artistas conceituais da estética do filme. As cenas aéreas que mostram as grandes paisagens da Terra Média, uma das características mais marcantes de Senhor dos Anéis, foram gravadas em grande parte na Nova Zelândia, país riquíssimo em natureza e com uma vasta variedade de cenários que possibilitaram a imersão no mundo imaginário criado por Tolkien. O país também serviu de lugar para a construção do Condado, morada dos hobbits, cenário que até hoje permanece por lá, e que agora serve como hotel para turistas. Além das belas locações, Peter Jackson também fez questão de abusar do chroma key (a famosa "tela verde"), usando do artifício toda vez que precisava de cenas em que o foco eram os atores. Outro fator que fez a diferença em Senhor dos Anéis (principalmente aqui, em A Sociedade do Anel, que deu início à trilogia) é o capricho usado na maquiagem dos atores. Cada peruca, roupa, prótese de silicone, arma ou armadura foi cuidadosamente bem utilizada, chegando a dar impressão de que tudo aquilo que era mostrado na tela do cinema era real. Até hoje eu não consigo imaginar como são feitos os orcs de Senhor dos Anéis, e o quanto demora pra deixar pessoas normais daquele jeito. Atores com uma estatura elevada foram transformadas em criaturas diminutas graças ao milagre da maquiagem, como John Rhys-Davies por exemplo, que interpreta o anão Gimli. Mas nada disso seria possível sem a ajuda do dublês, que dão vida às cenas de ação do filme e também ajudam na fotografia, tornando cenas difíceis de se imaginar para o cinema, como a de Sauron lutando no começo do filme, possíveis de serem executadas. Foram usados também muitos dublês de corpo para os atores principais, já que grande parte deles eram criaturas pequenas, como hobbits e anões, e precisavam dar uma impressão de serem realmente pequenos em cenas de longa distância.


O enredo do filme também foi muito bem trabalhado para que ficasse o mais fiel possível aos livros de Tolkien. O filme dá um grande sentimento de algo feito por fãs para fãs, principalmente por causa do respeito à obra original. E foi mais ou menos o que aconteceu de verdade, já que Peter Jackson é um grande fã da literatura de Tolkien, e só adaptou O Senhor dos Anéis para o cinema desse jeito justamente pelo fato de ser um fã do autor. A palavra adaptação define em todos os sentidos o que aconteceu nos filmes de Senhor dos Anéis. Apesar de bastante fiel à obra original, Jackson e sua equipe de roteiristas resolveram dar uma nova roupagem ao enredo criado por Tolkien. Questões como a passagem do tempo, que nós livros acontece irritantemente devagar, e as longas sequências de descrição de cenários, que acabaram tornando a narrativa dos livros um tanto quanto arrastada, foram dispensadas (ou aproveitadas, como no caso da descrição) em troca de um foco maior no desenvolvimento dos personagens, principalmente no protagonista Frodo e no peso de sua jornada ao lado do Um Anel. Graças a isso, também foi possível o desenvolvimento de cenas de ação empolgantes e bem coreografadas, que contrastam quase que perfeitamente com o núcleo dramático do filme, formando um belo equilíbrio entre drama e ação que raramente se era visto no cinema. Mesmo com todos esses cortes e reaproveitamentos da longa narrativa dos livros, o resultado foram filmes com uma duração exageradamente grande, mas que lhe cabem quase que perfeitamente. A Sociedade do Anel, o menor em duração da trilogia, tem nada menos que duas horas e cinquenta de duração total, e sua versão estendida (lançada somente para DVD e Blu-ray) tem uma hora a mais de duração, resultando num total de 3:50h de filme. Isso fez com que muita gente olhasse torto para O Senhor dos Anéis. Não são poucos aqueles que dormiram enquanto assistiam os filmes, ou que desistiram de assisti-lo por causa da duração exagerada. Ainda assim, A Sociedade do Anel foi o filme que mais conseguiu equilibrar os elementos explorados por Peter Jackson, sendo considerado por muitos críticos (e fãs também) como sendo o melhor filme da trilogia.


Peter Jackson fez questão de escolher a dedo todo o elenco principal do filme, e foi muito feliz em suas escolhas, diga-se de passagem. Não havia uma identidade visual específica para os personagens clássicos de Tolkien, e isso deu a Jackson uma certa liberdade para cria-las a seu bel prazer. O resultado foi tão positivo que é hoje em dia fica difícil imaginar algo diferente daquilo que é visto nos filmes. Mesmo alguns deles não sendo exímios atores (como é o caso de Orlando Bloom, que interpreta o personagem Legolas), seus respectivos personagens lhe cabem perfeitamente, não só pela semelhança visual com o que é descrito nos livros, mas também pelas suas respectivas personalidades.

A trilha sonora também é um elemento que merece destaque nas adaptações de Senhor dos Anéis. O excelente trabalho de Howard Shore consegue transportar até o mais cético dos espectadores diretamente para a cena que é mostrada na tela do cinema. A trilha emociona quando tem que emocionar, empolga quando tem que empolgar, acalma quando tem que acalmar e assusta quando tem que assustar, tudo num timing perfeito. 96,7% dos temas tocados em O Senhor dos Anéis são altamente memoráveis, e com certeza irão ficar na sua cabeça pelo resto de sua vida, lhe fazendo lembrar das aventuras da Terra Média.


Bem, isso é tudo galerinha.

Acho que esse post ficou enorme não é? Me desculpem por isso, não irá se repetir. Como este se trata do primeiro post do especial, achei necessária uma (não tão) breve introdução a todo o universo criado por Tolkien e (por que não) por Peter Jackson. Os próximos posts serão mais sucintos, mas com a mesma qualidade de conteúdo.

Espero que tenham gostado, obrigado e até amanhã, com As Duas Torres!

 Ah, e se você ainda não está satisfeito com este post gigante, você pode dar uma passada lá no Jurassicast e escutar o podcast deles sobre A Sociedade do Anel, que está totalmente excelente! É só clicar na imagem aqui embaixo e você será transportado para um mundo distante para a página dos caras!


Por Breno Barbosa

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