sábado, 19 de janeiro de 2013

Se não viu, veja! - Django Livre (2012)

D-J-A-N-G-O. O "d" é mudo.



E aí galerinha desocupada, sentiram saudades? Sim? Pois alegrai-vos, cá estou de volta com aquela boa e velha recomendação de cada semana!

Essa semana, a indicação é o mais novo filme de Quentin Tarantino, Django Livre (Django Unchained, no original), que estreia nos cinemas tupiniquins nesta sexta do dia 18 de Janeiro.

Django Livre conta a estória de Django, um escravo recém liberto que une forças como aprendiz de seu salvador, um renomado caçador de recompensas alemão chamado King Schultz. Após adquirir experiência, Django planeja resgatar sua esposa Brunhilde, que está sob o controle do cruel fazendeiro Calvin Candie. Porém, para tal demanda, Django precisará da ajuda de seu libertador mais uma vez, e juntos eles avançam de frente para enfrentar o grande magnata.


Nem só de efeitos especiais é feito um bom filme de ação, principalmente os faroestes. Pra você que ainda é um pequeno infante criado a leite com pera e Transformers, como você acha que os diretores se viravam antigamente? Com bons roteiros e cenas de ação empolgantes COM PESSOAS DE VERDADE, meu pequeno chapinha, e isso é o que Django Livre nos traz, e com muita maestria, diga-se de passagem. Apesar de ser um tanto quanto "limpo", o visual e a caracterização dos personagens está ótima. Por que "limpo"? Bem, assim como muitos outros, eu fui apresentado ao grande deserto dos faroestes através dos filmes de Sergio Leone e Clint Eastwood, os famosos "faroestes espaguete", clássicos indiscutíveis não só do gênero de ação, mas de toda a história do cinema. Além de muitas outros pontos marcantes, uma das características mais visíveis dos faroestes de Sergio Leone era a sujeira. Não só a sujeira visual, afinal, não há como ficar limpo no meio do deserto, mas a sujeira do caráter dos personagens. Mocinhos e vilões eram divididos por uma linha bem tênue, característica que consagrou Clint Eastwood como astro maior do gênero (eu sei que não sou o único que pensa assim). Mas isso se encaixa mais no quesito roteiro, e o que está em pauta aqui é a parte estética do filme, portanto, deixemos o faroeste de Sergio Leone um pouco de lado por enquanto. Só por enquanto, pois vai ser impossível falar de faroeste sem cita-lo. Voltando à estética do filme, Tarantino caprichou no figurino de seus personagens, como já é característico do diretor. Mesmo com visuais não muito elaborados, os personagens tem uma identidade visual bastante marcante. Você dificilmente esquecerá dos ternos e casacos cinza do Dr. King Schultz, ou da vestimenta espalhafatosa que Django usa no começo do filme. Tudo isso circundado por uma ótima fotografia, com cenários exuberantes e cheia de referências à filmes do gênero, como algumas cenas em plano médio (onde se mostra parte do cenário junto aos personagens) e plano geral (que mostra o cenário por completo) - parafraseando abertamente Sergio Leone mais uma vez - e o clássico zoom imediato que foca no rosto do ator, digno dos filmes de John Wayne. Falando em referências, quem conhece um pouquinho de cinema (como este que vos escreve) sabe que os filmes de Tarantino transbordam delas, e aqui em Django Livre não é diferente. Se você é um grande apreciador do cinema, com anos de experiência e vários filmes no currículo, eu lhe desafio a fisgar todas as referências que Tarantino pôs neste filme. Mas, se você ainda é um jovem novato no mundo cinematográfico (como este que vos escreve), não precisa se incomodar com isso, pois o filme será divertido e empolgante do mesmo jeito.


O roteiro de Django Livre é simples e bem amarrado. Nada de complexidades, metáforas ou questões filosóficas. Nada disso, estamos falando de Tarantino, e isso é coisa de Ang Lee (vide As Aventuras de Pi). Como pode ser visto em trailers, fotos e sinopses, Django Livre aborda abertamente a escravidão na América do Norte, e, ao invés de metaforizar ou criar filosofias sobre esse assunto, Tarantino o aborda de um jeito extremamente visceral, ou até ofensivo para alguns. Uma das principais características do diretor é a violência exacerbada e explícita, e aqui em Django Livre ela está ainda mais visível, ainda mais crível. Se você tem um estômago fraco, é melhor se preparar um pouco antes de ver Django Livre, pois Tarantino não tem nenhum pudor ao remontar as atrocidades que eram feitas aos escravos naquela época. E talvez esse seja o principal motivo que o levou à indicação ao Oscar de Melhor Filme: uma crítica aberta e visceral à escravidão, sem meias palavras ou censura. Tarantino também usa bastante de humor negro (sem trocadilhos, por favor), o que aumenta ainda mais "crueza" do filme. Se você é um pouco mais sensível (e por sensível eu não quero dizer afeminado), peço para que tente ao máximo não se sentir incomodado pela violência de Django Livre, pois como eu disse há pouco, é tudo muito visceral. Porém, toda essa "crítica" é contrastada por diálogos excelentes, atuações incríveis e cenas de ação altamente empolgantes e cheias de humor. Como sempre, tudo recheado por referências (alguns diriam plágios, outros diriam homenagens) à vários outros filmes, do mesmo gênero ou não. E tocando no assunto referências, vale lembrar que tanto o filme (Django Livre) quanto o personagem (Django) são inspirados no filme Django, faroeste de 1966 dirigido por Sergio Corbucci e protagonizado por Franco Nero, que, à propósito, também faz uma pequena ponta em Django Livre. Ah, e pra quem não sabe, Quentin Tarantino trabalhava em uma locadora, consequentemente um apaixonado por cinema, que aprendeu tudo o que sabe até hoje apenas por assistir filmes. Este é o grande motivo por trás de todas as paráfrases e "homenagens" do diretor em seus filmes. Falando nisso, é recomendável - recomendável, não obrigatório - que você assista um ou dois filmes do diretor antes de ir ao cinema ver Django Livre. Por que? Pra se acostumar com o ritmo alucinado e alinear de Tarantino, dois artifícios que o diretor não usa com muita frequência aqui em seu novo filme. É quebra de linearidade é mínima, e o ritmo do filme começa ótimo, mas vai se prolongando de um jeito desnecessário, tornando-o longo e, depois de um tempo, cansativo. Este é o maior - e talvez o único - defeito sobressalente do filme.


Tarantino pode até não ser o melhor dos atores, mas não se pode negar que ele dirige muito bem seu elenco na grande maioria de seus filmes, e Django Livre não foge à regra. Todos os atores exercem muito bem seus respectivos papéis, desde os principais até as pontas e participações especiais. É impossível falar de Django Livre sem falar de Chritoph Waltz. Pra quem acompanha a filmografia do diretor, ele interpretou o aclamado Hans Landa de Bastardos Inglórios, personagem que lhe rendeu um Oscar de Melhor Ator Coadjuvante em 2009, e aqui em Django Livre ele não deixa a peteca cair. Waltz e seu Dr. King Schultz roubam a cena toda vez que aparecem no filme, seja com a língua afiada do personagem ou com suas excepcionais habilidades como assassino. Não é a toa que ator foi indicado mais uma vez ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Outra atuação que merece bastante destaque é a de Leonardo DiCaprio, que interpreta o vilão do filme, Calvin Candie. DiCaprio nos traz um vilão extremamente cativante e divertido, ao mesmo tempo em que pode ser assustador. E, pra quem ainda não notou, Samuel L. Jackson também está no filme, debaixo de uma maquiagem que o deixa quase irreconhecível, interpretando o tipo de personagem no qual ele é especialista: o "bad mothafocka" com a língua suja. Depois de citar tantos atores, você deve estar se perguntando: E o protagonista do filme, como está? Bem, o Django de Jamie Foxx não é nada muito impressionante. Não pela qualidade do ator, mas pelo modo como o personagem foi escrito. Django não requer uma atuação muito elaborada, e, por mais que pareça, isso não é um defeito. Ao fim do filme, você provavelmente será mais um fã do pistoleiro ex-escravo.

Quem conhece um pouco Quentin Tarantino sabe que o diretor sempre escolhe a dedo a trilha sonora de seus filmes. Seja em Cães de Aluguel, Pulp Fiction, Kill Bill ou Bastardos Inglórios, a trilha sonora sempre é de primeira, bem variada e, de algum modo (quase que por bruxaria), encaixa perfeitamente com o filme. Django Livre executa todas essas tarefas com maestria. Podemos ouvir desde temas de clássicos dos faroestes, compostos por Ennio Morricone e Luis Bacalov (compositor do Django de Franco Nero), á faixas de rap e hip-hop (não, eu não sei a diferença, por isso, corrijam-me nos comentários), dando o mais inusitado dos contrastes ao filme. Modernas ou clássicas, as músicas sempre encaixam perfeitamente quando são evocadas, mesmo que por apenas alguns segundos. É claro, grande parte delas referenciando outros filmes, como Tarantino gosta de fazer.


Bem galerinha, creio que isso é tudo. Hora daquela boa e velha nota marota, não é?

Aí está -> 9,5 / 10

Django Livre erra apenas na duração, que deixa o filme arrastado e até um pouco cansativo da metade para o final. Fora isso, todo o resto é executado na tela com perfeição. A ação é empolgante e os diálogos bem-humorados contrastam quase que perfeitamente com as críticas cruas e realistas à escravidão norte-americana de outrora, tudo no melhor estilo Quentin Tarantino, fazendo com que Django Livre honre sua indicação ao Oscar de Melhor Filme neste ano de 2013. Não é todo dia que Tarantino resolve levantar de seu sofá e começar a fazer um filme, mas quando isso acontece, é melhor você estar preparado para algo bom e diferente.

Portanto, se você pretende marcar um cineminha com a galera nesse final de semana, Django Livre é o seu filme!

Até a próxima pessoal!

Por Breno Barbosa

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