Lé vent se lève...
Faaaaaaala, galerinha desocupada, tudo beleza com vocês? O que? O que significa aquela frase lá em cima? Eu não faço a mínima ideia. É algo a ver com o vento, coisa do tipo. Acho que está em canadense, ou em mexicano, não sei...
Enfim, os desocupados de longa data já manjam bastante dos paranauês por aqui, mas para os novatos que estão chegando agora, o fim de semana é a hora em que nós, os desocupados defensores da galáxia, arregaçamos nossas mangas e nos pomos a redigir artigos e indicações estrogonoficamente sensíveis para vocês, com temáticas que "vareiam" entre Cinema, Games, HQs, Séries, Livros, iogurteiras, máquinas fotográficas que não funcionam direito, Cup Noodles no gelo e daí em diante. E neste fim de semana, graças aos Chozo, essa rotina não será quebrada!
Hoje, trago a vocês Vidas ao Vento (The Wind Rises, em inglês, ou Kaze Tachinu, no original japonês), a mais nova animação do Studio Ghibli (do qual já falei um pouco aqui, através de O Castelo Animado) e, infelizmente, a última animação do estúdio a ser dirigida pelo mestre Hayao Miyazaki. No Japão, Vidas ao Vento foi lançado em 20 de Julho de 2013, mas só em Fevereiro de 2014 (28 de Fevereiro, aqui no Brasil) chegou aos cinemas ocidentais, em circuito limitado. Vidas ao Vento também concorreu ao Oscar de Melhor Longa de Animação este ano, mas acabou perdendo a estatueta para Frozen.
Em Vidas ao Vento, acompanhamos a história da vida de Jiro Horikoshi, um jovem japonês, contemporâneo do século 20, que sonha em se tornar um designer de aviões, influenciado pelo famosíssimo designer italiano Gianni Caproni. No caminho para realizar seu sonho, Jiro se deparada com novas amizades, escolhas complexas, tragédias, sucessos, fracassos e, é claro, um belo romance.
Pra começar o post com o pé direito, algumas perguntinhas marotas: hoje em dia, o que faz você considerar um animação "bonita", do ponto de vista estético? Seria o nível de realismo do CGI (Computação Gráfica), a engine (motor gráfico) que o sustenta, o 3D estereoscópico e coisas do tipo? Se sim, qual animação atual você imporia como parâmetro de comparação ("Pra que uma animação seja visualmente bonita, ela tem que ser que nem...")? Frozen? Universidade Monstros? Indo um pouquinho mais fundo, o que exatamente faz desses filme animações graficamente bonitas? O que eu quero dizer, onde eu quero chegar, com isso é: hoje em dia, necessariamente, uma animação precisa ter todas as 3 dimensões, engines super-modernas e um 3D que complementa a experiência de assisti-la; para ser bonita? Será que, realmente, não há mais espaço para animações 2D tradicionais nos cinemas, como as empresas ditam? Será que essas animações não são mais bonitas, não tem mais um apelo para com o público?
Eu não sei a resposta de vocês, meus caros desocupados (a propósito, eu realmente gostaria de sabe-la lá em baixo, nos comentários do post), mas a minha resposta é Não. Não, uma animação não precisa ser 3D para ser bonita, mesmo nos dias atuais. Pra falar a verdade, eu prefiro um zilhão de vezes as animações 2D tradicionais as mais novas, feitas totalmente em computação gráfica. Quem foi que disse que "deste dia em diante, todas as animações deverão ser feitas totalmente em CGI"? Particularmente, eu acho isso um tiro no pé, já que animações assim tendem a envelhecer e se desgastar visualmente bem mais rápido que as tradicionais. Mas, enfim, foco, chega de criticar a indústria, estamos aqui pra falar de Vidas ao Vento, não é?
Mas todo esse rodeio não foi a toa. O que eu quis dizer com isso é que, mesmo sendo uma animação bastante atual (relativamente), Vidas ao Vento vai contra essa imposição da indústria, e ainda assim nos entrega um produto tão bonito quanto o que vemos nos cinemas hoje em dia, e até bem melhor, ouso dizer (na minha opinião, é claro). Não há como esperar menos que isso quando se trata do Studio Ghibli, ainda mais quando a batuta está na mão de Hayao Miyazaki. As animações do estúdio, principalmente quando estão sob a direção de Miyazaki, tendem a usar de métodos tradicionais de animação, mesclando-os com algumas pitadas de tecnologia moderna, mas sempre prezando pelo clássico. Acho que já falei isso antes por aqui, mas sempre há um esmero por parte de estúdio em fazer com que suas animações sempre pareçam o mais natural possível. Tudo que se vê na tela parecido ter sido feito a mão, e muito do que se é visto realmente foi feito a mão, mas o produto final é tão bem tratado que temos a impressão de o longa foi animado quadro a quadro, no acetato. Isso se aplica tanto à Vidas ao Vento quanto à qualquer outro filme do Studio Ghibli, até mesmo os mais "fraquinhos" (como Contos de Terramar, por exemplo).
Definitivamente, Um dos principais fatores recorrentes nas animações de Hayao Miyazaki é a magia. Sempre há algo novo, algo fantástico em seus filmes, sejam criaturas lendárias, máquinas mirabolantes ou mundos distópicos; Miyazaki sempre procura inserir algo mágico em suas animações, e isso resulta em elementos visuais belíssimos e muito bem elaborados. O Castelo Animado é um dos melhores exemplos para confirmar minhas palavras. Porém, a coisa muda um pouco de figura aqui em Vidas ao Vento. Calma, não é como se o velho Miyazaki tivesse abandonado a magia em seu último trabalho, mas desta vez ele resolveu fincar seus pés no chão e contar uma história mais próxima da realidade, ainda que bastante romanceada. Mas isso não quer dizer Vidas ao Vento também não possua grandes dotes visuais de encher os olhos. A animação dos personagens é fluida e incrivelmente natural. Os cenários possuem cores vivas e brilhantes, e mais parecem pinturas de tão bonitos que são. Ah, vale destacar também a cena do Terremoto, que mistura muito bem a animação 2D com efeitos de computação gráfica, ilustrando muito bem o que eu disse um pouquinho mais acima (sobre mesclar animação tradicional e tecnologia). Porém, se você leu a sinopse lá em cima, você deve ter entendido que as verdadeiras estrelas do filme são os aviões, e eles realmente são o suprassumo de Vidas ao Vento. Pelo menos no que diz respeito a parte gráfica do filme, é claro. Miyazaki faz questão de que seu público veja e compreenda como é criado um avião, mostrando, sempre que possível, todos os componentes que o constituem, peça por peça. Esse elemento visual ajuda bastante em alguns momentos na trama, como quando, por exemplo, Jiro tenta explicar como implementar a performance dos aviões da fábrica onde trabalha. Mas não há como não dar destaque aos sonhos do jovem Jiro, que com certeza são a sequências mais visualmente belas do filme (além de serem as minhas favoritas, a propósito). Em seus sonhos, Jiro pode fazer o que quiser com quem bem entender, até mesmo conversar em cima da asa de um enorme avião de transporte turístico com seu maior ídolo, Gianni Caproni. O mais interessante são as transições entre o mundo real e os sonhos de Jiro, que ocorrem de maneira sutil, as vezes quase imperceptível. E o mais legal disso é que Jiro não precisa estar necessariamente dormindo para que isso aconteça, pois ele costuma sonhar acordado enquanto elabora o design de seus aviões.
Pra falar a verdade, eu sei exatamente como Jiro se sente nesses momentos — a sensação de "viajar pra fora do mundo" enquanto faz o que mais gosta (como um hobby, por exemplo) —, e acredito que alguns de vocês, desocupados, também saberão quando assistirem o filme.
Como eu já falei lá em cima — e acho que ainda vou repetir muito até o final do post —, a magia característica das animações de Hayao Miyazaki foi deixada um pouco de lado em Vidas ao Vento, e isso não vale só para a parte visual do filme, mas também para a narrativa do mesmo. Tudo aqui é muito "pé no chão", muito real. Alguns de vocês desocupados devem estar familiarizados com o termo larger than life (maior que a vida, traduzindo), não é? Mas para os que não estão, vou tentar explicar um pouquinho. Corrijam-me se eu estiver errado, galerinha que sabe demais! Nas obras de ficção, o termo larger than life é usado para definir algo, como o próprio termo propõe, "maior que a vida", ou seja, maior do que esse algo realmente seria na vida real. Isso pode ser aplicado a um romance entre personagens (aquele romance ideal, super-bonito e meloso), ou a um sonho, meta ou objetivo, uma rivalidade... e por aí vai.
Pelo fato de Vidas ao Ventos se tratar de uma história muito mais próxima da realidade (em comparação as outras histórias contadas por Miyazaki, é claro), poucos elementos podem ser considerados larger than life. O grande sonho de Jiro e seu ofício como designer de aviões é retratado como algo bem comum durante o filme. Um trabalho como qualquer outro. O romance vivido por ele em certo ponto da trama também não é nenhum Romeu & Julieta ou coisa do tipo. Apenas um romance comum. O próprio personagem Jiro Horikoshi também não é nenhum herói (ou anti-herói) ideal, utópico. Ele é apenas um rapaz como qualquer outro de sua idade, com sonhos, dúvidas, paixões e objetivos como qualquer outro jovem do nosso mundo. Talvez a única coisa "maior que a realidade" em Vidas ao Vento sejam os sonhos e devaneios de Jiro, mas convenhamos, meus caros desocupados: todo sonho que temos, acordados ou não, são larger than life, não é? Ou você realmente acha que aquele dinossauro rosa correndo atrás de você na noite passada seria possível no mundo real?
Com isso, vem a pergunta que alguns de vocês devem estar fazendo neste exato momento: isso é bom ou ruim? Caberá a você decidir. Se você procura algo mais fantasioso, uma fuga da realidade, talvez a temática pé no chão de Vidas ao Vento não lhe agrade muito. Se você estiver indo de mente aberta, apenas com o intuito de ver uma boa animação, Vidas ao Vento não irá lhe decepcionar. Mas para aqueles possam não gostar da "falta de magia" do filme, eu lhes pergunto: até que ponto uma animação precisa ser ideal, utópica, para ser uma boa animação? Até que ponto uma história precisa ser "maior que a realidade" para ser bonita e encantadora? Particularmente, é aí que, pra mim, reside toda a graça de Vidas ao Vento. Tudo é tão comum e ao mesmo tempo tão encantador e emocionante (sim, eu chorei pra caramba nesse filme), como se fosse uma forma de o velho Miyazaki nos dizer "hey, a sua vida também é legal!", ou algo do tipo.
Mas nem tudo é tão bonito e encantador assim em Vidas ao Vento. Por mais que eu tenha argumentado a favor disso, a semi-ausência de magia no filme chegou a me incomodar um pouco, principalmente nos primeiros minutos do filme, devido ao fato de eu estar acostumado com as animações anteriores, sempre mágicas e fantasiosas, de Hayao Miyazaki. Outra coisa que também me fez virar a cabeça e franzir a testa foi o ritmo do filme. Lembra do que eu falei sobre larger than life? Pois é, o mesmo pode ser dito aqui. O ritmo é tão "comum", tão "normal", que chega a ser lento e cansativo. E a trama não possui o que poderíamos definir claramente como conflito, clímax e resolução; não há exatamente algo que mantenha o espectador aguardando ansiosamente pelo desfecho daquela história (assim como na nossa vida). Acho que muito disso se deve ao ritmo, que não apressa nem diminui o passo em momento algum da trama, dificultando o clima que determinada cena ou sequência deveria transmitir.
Ah, e acho que poderíamos ter mais um pouco de Gianni Caproni e seu bigode super-maneiro!
Diferente do que fiz com O Castelo Animado, infelizmente, não pude dar uma conferida nas outras versões — que não a original — de Vidas ao Vento. Porém, julgando pela escolha do elenco escolhido para a dublagem e com base em outras dublagens para filmes do Studio Ghibli, posso chutar que a dublagem norte-americana de Vidas ao Vento não fica atrás da versão original. Indo para América do Sul, eu realmente não tenho certeza se há ou se haverá uma versão brasileira para Vidas ao Vento. O filme estreou em pouquíssimos cinemas, e provavelmente todas as sessões devem estar legendadas, com o áudio original. Assim, fica difícil de saber se houve necessidade de uma dublagem brasileira.
No que diz respeito a trilha sonora, Vidas ao Vento com certeza tem uma das melhores trilhas já compostas para as animações do Studio Ghibli. Todos os momentos do filme são ilustrados por faixas emocionantes, empolgantes e que chamam a atenção. Alguns temas são bem característicos e fáceis de identificar quando entram em cena, e com certeza ficarão na sua memória depois que o filme acabar. Como manda o costume, toda animação do Studio Ghibli precisa ser fechada com uma bela musica-tema (geralmente cantada), e Vidas ao Vento se mantém fiel a essa tradição com Hikoukigumo, interpretada por Yumi Matsutoya. Simplesmente a faixa mais bonita da animação, em minha humilde opinião fecal. Confiram aí:
Pera aí... Sniff! Só um instante, deixa eu limpar as lágrimas aqui e... Pronto, tudo bem, vamos lá! Bem, acho que já falei tudo o que tinha pra falar, galerinha desocupada. Hora daquela boa e velha nota de sempre, não é mesmo?
E aí vai ela -> 9,0 / 10
Hayao Miyazaki realmente capricha bastante em sua obra de despedida, mas não tanto quanto em alguns de seus trabalhos anteriores (é claro, vale ressaltar que essa é a minha opinião). Mesmo conseguindo contar uma belíssima história com uma narrativa mais realista, a fantasia e a magia, as assinaturas mais características de Miyzaki, ainda fazem um pouquinho de falta, principalmente nos momentos iniciais, quando ainda estamos nos acostumando a pegada do filme. Ainda assim, Vidas ao Vento é com certeza uma das melhores animações já produzidas pelo Studio Ghibli, e também uma das histórias mais encantadoras já contadas pelo velho Miyazaki. Além de ser a verdadeira merecedora do título de Melhor Animação de 2013, é claro!(Toma essa, Frozen!)
"Entonce", se há um cinema com pelo menos uma sessão diária de Vidas ao Vento pertinho de você, não perca tempo e corra para conferi-lo, pois o filme pode sair de cartaz a qualquer momento! Ah e fica a dica: se você for uma pessoa muito emotiva, não se esqueça levar um lencinho. Acredite, isso fez uma baita falta quando fui assistir o filme...
Isso é tudo, galerinha. Um abraço e até a próxima!
Por Breno Barbosa
Guarda essa espada, Arren, senão eu arranco ela da tua mão e te espanco aqui mesmo! (OBS: A imagem acima pertence a Contos de Terramar) |
Definitivamente, Um dos principais fatores recorrentes nas animações de Hayao Miyazaki é a magia. Sempre há algo novo, algo fantástico em seus filmes, sejam criaturas lendárias, máquinas mirabolantes ou mundos distópicos; Miyazaki sempre procura inserir algo mágico em suas animações, e isso resulta em elementos visuais belíssimos e muito bem elaborados. O Castelo Animado é um dos melhores exemplos para confirmar minhas palavras. Porém, a coisa muda um pouco de figura aqui em Vidas ao Vento. Calma, não é como se o velho Miyazaki tivesse abandonado a magia em seu último trabalho, mas desta vez ele resolveu fincar seus pés no chão e contar uma história mais próxima da realidade, ainda que bastante romanceada. Mas isso não quer dizer Vidas ao Vento também não possua grandes dotes visuais de encher os olhos. A animação dos personagens é fluida e incrivelmente natural. Os cenários possuem cores vivas e brilhantes, e mais parecem pinturas de tão bonitos que são. Ah, vale destacar também a cena do Terremoto, que mistura muito bem a animação 2D com efeitos de computação gráfica, ilustrando muito bem o que eu disse um pouquinho mais acima (sobre mesclar animação tradicional e tecnologia). Porém, se você leu a sinopse lá em cima, você deve ter entendido que as verdadeiras estrelas do filme são os aviões, e eles realmente são o suprassumo de Vidas ao Vento. Pelo menos no que diz respeito a parte gráfica do filme, é claro. Miyazaki faz questão de que seu público veja e compreenda como é criado um avião, mostrando, sempre que possível, todos os componentes que o constituem, peça por peça. Esse elemento visual ajuda bastante em alguns momentos na trama, como quando, por exemplo, Jiro tenta explicar como implementar a performance dos aviões da fábrica onde trabalha. Mas não há como não dar destaque aos sonhos do jovem Jiro, que com certeza são a sequências mais visualmente belas do filme (além de serem as minhas favoritas, a propósito). Em seus sonhos, Jiro pode fazer o que quiser com quem bem entender, até mesmo conversar em cima da asa de um enorme avião de transporte turístico com seu maior ídolo, Gianni Caproni. O mais interessante são as transições entre o mundo real e os sonhos de Jiro, que ocorrem de maneira sutil, as vezes quase imperceptível. E o mais legal disso é que Jiro não precisa estar necessariamente dormindo para que isso aconteça, pois ele costuma sonhar acordado enquanto elabora o design de seus aviões.
Pra falar a verdade, eu sei exatamente como Jiro se sente nesses momentos — a sensação de "viajar pra fora do mundo" enquanto faz o que mais gosta (como um hobby, por exemplo) —, e acredito que alguns de vocês, desocupados, também saberão quando assistirem o filme.
Isso é o que acontece quando você trabalha com a janela aberta. |
Como eu já falei lá em cima — e acho que ainda vou repetir muito até o final do post —, a magia característica das animações de Hayao Miyazaki foi deixada um pouco de lado em Vidas ao Vento, e isso não vale só para a parte visual do filme, mas também para a narrativa do mesmo. Tudo aqui é muito "pé no chão", muito real. Alguns de vocês desocupados devem estar familiarizados com o termo larger than life (maior que a vida, traduzindo), não é? Mas para os que não estão, vou tentar explicar um pouquinho. Corrijam-me se eu estiver errado, galerinha que sabe demais! Nas obras de ficção, o termo larger than life é usado para definir algo, como o próprio termo propõe, "maior que a vida", ou seja, maior do que esse algo realmente seria na vida real. Isso pode ser aplicado a um romance entre personagens (aquele romance ideal, super-bonito e meloso), ou a um sonho, meta ou objetivo, uma rivalidade... e por aí vai.
Pelo fato de Vidas ao Ventos se tratar de uma história muito mais próxima da realidade (em comparação as outras histórias contadas por Miyazaki, é claro), poucos elementos podem ser considerados larger than life. O grande sonho de Jiro e seu ofício como designer de aviões é retratado como algo bem comum durante o filme. Um trabalho como qualquer outro. O romance vivido por ele em certo ponto da trama também não é nenhum Romeu & Julieta ou coisa do tipo. Apenas um romance comum. O próprio personagem Jiro Horikoshi também não é nenhum herói (ou anti-herói) ideal, utópico. Ele é apenas um rapaz como qualquer outro de sua idade, com sonhos, dúvidas, paixões e objetivos como qualquer outro jovem do nosso mundo. Talvez a única coisa "maior que a realidade" em Vidas ao Vento sejam os sonhos e devaneios de Jiro, mas convenhamos, meus caros desocupados: todo sonho que temos, acordados ou não, são larger than life, não é? Ou você realmente acha que aquele dinossauro rosa correndo atrás de você na noite passada seria possível no mundo real?
Com isso, vem a pergunta que alguns de vocês devem estar fazendo neste exato momento: isso é bom ou ruim? Caberá a você decidir. Se você procura algo mais fantasioso, uma fuga da realidade, talvez a temática pé no chão de Vidas ao Vento não lhe agrade muito. Se você estiver indo de mente aberta, apenas com o intuito de ver uma boa animação, Vidas ao Vento não irá lhe decepcionar. Mas para aqueles possam não gostar da "falta de magia" do filme, eu lhes pergunto: até que ponto uma animação precisa ser ideal, utópica, para ser uma boa animação? Até que ponto uma história precisa ser "maior que a realidade" para ser bonita e encantadora? Particularmente, é aí que, pra mim, reside toda a graça de Vidas ao Vento. Tudo é tão comum e ao mesmo tempo tão encantador e emocionante (sim, eu chorei pra caramba nesse filme), como se fosse uma forma de o velho Miyazaki nos dizer "hey, a sua vida também é legal!", ou algo do tipo.
Mas nem tudo é tão bonito e encantador assim em Vidas ao Vento. Por mais que eu tenha argumentado a favor disso, a semi-ausência de magia no filme chegou a me incomodar um pouco, principalmente nos primeiros minutos do filme, devido ao fato de eu estar acostumado com as animações anteriores, sempre mágicas e fantasiosas, de Hayao Miyazaki. Outra coisa que também me fez virar a cabeça e franzir a testa foi o ritmo do filme. Lembra do que eu falei sobre larger than life? Pois é, o mesmo pode ser dito aqui. O ritmo é tão "comum", tão "normal", que chega a ser lento e cansativo. E a trama não possui o que poderíamos definir claramente como conflito, clímax e resolução; não há exatamente algo que mantenha o espectador aguardando ansiosamente pelo desfecho daquela história (assim como na nossa vida). Acho que muito disso se deve ao ritmo, que não apressa nem diminui o passo em momento algum da trama, dificultando o clima que determinada cena ou sequência deveria transmitir.
Ah, e acho que poderíamos ter mais um pouco de Gianni Caproni e seu bigode super-maneiro!
— Senhor Caproni, quando eu terei um bigode que nem o do senhor? — Nunca, meu jovem. Nunca. |
Diferente do que fiz com O Castelo Animado, infelizmente, não pude dar uma conferida nas outras versões — que não a original — de Vidas ao Vento. Porém, julgando pela escolha do elenco escolhido para a dublagem e com base em outras dublagens para filmes do Studio Ghibli, posso chutar que a dublagem norte-americana de Vidas ao Vento não fica atrás da versão original. Indo para América do Sul, eu realmente não tenho certeza se há ou se haverá uma versão brasileira para Vidas ao Vento. O filme estreou em pouquíssimos cinemas, e provavelmente todas as sessões devem estar legendadas, com o áudio original. Assim, fica difícil de saber se houve necessidade de uma dublagem brasileira.
No que diz respeito a trilha sonora, Vidas ao Vento com certeza tem uma das melhores trilhas já compostas para as animações do Studio Ghibli. Todos os momentos do filme são ilustrados por faixas emocionantes, empolgantes e que chamam a atenção. Alguns temas são bem característicos e fáceis de identificar quando entram em cena, e com certeza ficarão na sua memória depois que o filme acabar. Como manda o costume, toda animação do Studio Ghibli precisa ser fechada com uma bela musica-tema (geralmente cantada), e Vidas ao Vento se mantém fiel a essa tradição com Hikoukigumo, interpretada por Yumi Matsutoya. Simplesmente a faixa mais bonita da animação, em minha humilde opinião fecal. Confiram aí:
E aí vai ela -> 9,0 / 10
Hayao Miyazaki realmente capricha bastante em sua obra de despedida, mas não tanto quanto em alguns de seus trabalhos anteriores (é claro, vale ressaltar que essa é a minha opinião). Mesmo conseguindo contar uma belíssima história com uma narrativa mais realista, a fantasia e a magia, as assinaturas mais características de Miyzaki, ainda fazem um pouquinho de falta, principalmente nos momentos iniciais, quando ainda estamos nos acostumando a pegada do filme. Ainda assim, Vidas ao Vento é com certeza uma das melhores animações já produzidas pelo Studio Ghibli, e também uma das histórias mais encantadoras já contadas pelo velho Miyazaki. Além de ser a verdadeira merecedora do título de Melhor Animação de 2013, é claro!
Isso é tudo, galerinha. Um abraço e até a próxima!
Por Breno Barbosa
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