sexta-feira, 19 de julho de 2013

Se não leu, leia! - Filhos do Fim do Mundo

O fim não está próximo. Ele já chegou.




Faaaaala, pautaiada galerinha desocupada, tudo beleza com vocês?

Como já é tradição aqui no blog, todo fim de semana, um de nós, desocupados profissionais (com carteira assinada), trazemos à vocês uma indicação batuta, geralmente relacionadas a cinema, HQs, séries, games, livros ou o que mais nos der na telha. E, graças a Deus (se é que você acredita nele), esta semana não será diferente!

Desta vez, vamos de literatura brasileira, com Filhos do Fim do Mundo, o livro de estreia do já bastante experiente escritor Fábio M. Barreto, lançado em Janeiro de 2013 pelo selo Fantasy/Casa da Palavra, da Editora Leya (sim, a mesma do excelentíssimo O Espadachim de Carvão). Filhos do Fim do Mundo está disponível nas melhores livrarias (eu sempre quis dizer isso), tanto em versões físicas quanto em digitais. Ah, e pra quem não o conhece, Fábio Barreto é um dos integrantes do RapaduraCast e o principal responsável pelo site SOS Hollywood, além de, é claro, ser um exímio jornalista.

Ah, e antes de dar continuidade ao post, gostaria de esclarecer aqui o principal motivo de estar comentando sobre o livro. Assim como aconteceu com O Espadachim de Carvão, o autor do livro, Fábio Barreto, está em um "tour" Brasil afora, e neste dia 20 de Julho (um sábado, também conhecido como AMANHÃ), o mesmo estará presente em minha querida terra, Fortaleza, para uma sessão de autógrafos na Livraria Cultura do Shopping Varanda Mall, que, pra quem é conterrâneo e não sabe como chegar lá, fica na Avenida Dom Luís, N° 1010, no Meireles. A sessão de autógrafos terá início às 15:00, seguida de uma palestra com o autor no auditório da livraria. Obviamente, este que vos escreve tentará ao máximo marcar presença no evento (devidamente trajado do uniforme do site, provavelmente), afinal, eu também quero um autógrafo no meu livro! Para mais informações, clique AQUI e confira alguns detalhes na página do evento no Facebook. Espero vê-los lá!


Enfim, falemos do livro. Mas primeiro, uma breve sinopse.

Ao 12º badalar do relógio, a má notícia se espalha. Ao redor de todo o globo, crianças com menos de 1 ano de idade começam a morrer misteriosamente, e o vento levava cada vez mais rápidos os rumores e burburinhos de que o fim do mundo havia começado. Sem culpados aparentes, sem causas descobertas e sem informações. Apenas morte, pânico e terror. Em meio a todo esse caos está o Repórter, cujo a esposa está grávida e prestes a dar a luz ao amado primeiro filho do casal. Movido pelo desespero e pelo medo de perder sua criança, o Repórter aceita se juntar aos militares em uma missão secreta em busca de uma possível cura para o ocorrido, sem saber, porém, o que lhe aguarda em sua jornada.


Ao falar do livro do querido senhor Affonso "Matador de Robôs" Solano, lembro que falei bastante sobre a estética trazida pelo universo criado no livro, do quanto ela parecia fantástica, que usava bastante conceitos visuais e do quanto ela apelava para imaginação dos leitores, ao ponto de maravilha-los com aquele mundo. Lembra disso? Pois é, em contrapartida ao livro do espadachim chamuscado, Filhos do Fim do Mundo traz muito pouco — quase nada — desse apelo a elemento visuais. Mas não se deixe enganar, isso não é algo ruim. Aliás, pelo contrário, se encaixa perfeitamente na proposta do livro, que é trazer uma trama muito mais embasada na realidade. Se eu tivesse que classificar Filhos do Fim do Mundo em um ou mais gêneros cinematográficos (por mais que, é claro, essa classificação se encaixe em qualquer outra mídia), estes seriam Ficção Científico e Drama. Obviamente, agora é a hora de dizer o por quê das minhas escolhas. Primeiramente, eu digo que Filhos do Fim do Mundo se encaixa no gênero Ficção Científica porque, por trás de toda a trama central do livro — que gira em torno do Repórter e daqueles que o circundam —, há uma catástrofe acontecendo mundo afora, e ninguém sabe como ela começou ou "como" ou "se" ela terá um fim. Ou pelo menos isso é o que "eles" (ou "ele", Fábio Barreto) querem que nós acreditemos. Esses questionamentos são bastante típicos do gênero Ficção Científica, talvez até obrigatórios para uma boa obra do gênero. A proximidade com a realidade que conhecemos — ou de uma realidade bastante próxima à que vivemos também pode ser considerada um elemento que constitui boa parte das Ficções Científicas que vemos por aí, afinal, a obra — independente da mídia a qual esteja veiculada — precisa nos fazer, de alguma maneira, compactuar com o que está acontecendo, seja aproximando-se da realidade conhecida pelo espectador, ou seja usando de outros artifícios. "Crer para descrer", ou "Crer para duvidar, questionar", algo assim. Pelo menos é no que eu acredito. A justificativa para minha outra escolha, que foi o Drama, se dá por causa da carga emocional trazida pelo livro. A todo momento, o autor se preocupa em deixar o leitor ciente das emoções e sentimentos de seu personagem central — e não só dele, vale ressaltar —, as vezes através de uma intensa introspecção na psique do personagem, outras vezes usando da boa, velha e simples — porém eficaz — descrição. Pessoalmente, eu diria que é preciso ter um coração quente e pelo menos um pouquinho de empatia (e compaixão, talvez) para se ter uma experiência completa com a leitura de Filhos do Fim do Mundo. Claro, isso não é obrigatório para que você goste do livro, mas acho que essa é melhor maneira de consumir (no sentido de ler, não de comer) Filhos do Fim do Mundo. Mas é apenas a minha opinião, sinta-se livre para discordar.


À primeira vista, a proposta de Filhos do Fim do Mundo não parece ser a mais original de todas, e quer saber? Eu também não acho que seja. Na minha opinião, o tema "Fim do Mundo", "Apocalipse" ou seja lá o nome que você queira dar pra isso, está bastante saturado. Para onde quer que olhemos, tem uma apocalipse acontecendo, seja na telona do cinema, na telinha da TV ou nas páginas de um livro. Mesmo assim, o livro de Fábio Barreto explora este tão saturado tema sob uma ótica ao mesmo tempo diferente e familiar. Eu não sei vocês, caros desocupados, mas eu nunca acompanhei um fim do mundo fictício — onde todos os bebezinhos com menos de 1 ano de idade estão morrendo sem mais nem menos — sob o ponto de vista de um pai, acima de toda a humanidade, quer salvar a esposa e o filho que está por vir. Porém, não existe uma boa história sem uma boa estrutura narrativa, e Filhos do Fim do Mundo também se sai muito bem nesse quesito. Pelo menos para este que vos escreve (e com certeza para outras pessoas que também leram o livro), a narrativa do livro de Fábio Barreto se assemelha bastante a de uma série para TV, sempre circundando entre vários núcleos (e personagens) diferentes e com um foco bem mais voltado para os personagens que para a trama em si. Acho que minissérie seria o melhor termo, afinal, Filhos do Fim do Mundo começa, se desenvolve e termina sob a mesma capa. Pelo menos por enquanto. Em diversos momentos do livro, você se vê ali, no canto da casa, acompanhando o trabalho árduo do governante de uma determinada região e sua equipe para conter as manifestações populares que estão acontecendo bem no portão de sua enorme casa; e de repente, quando aquela trama começa a fervilhar — e você começa a aproximar cada vez mais o livro do seu rosto, o "subcapítulo" (ou seja qual o nome certo para as subdivisões de um capítulo) acaba e a história continua em outro núcleo. É de arrancar os cabelos de ansiedade, mas é um artifício bastante funcional para manter o espectador vidrado na história. Infelizmente, esse maldito Fábio Barreto sabe disso, e faz muito bom uso desse artifício em seu livro. Ah, e se tem outra coisa que esse cara sabe fazer muito bem, essa coisa é emocionar. É sério, meu caros, eu nunca chorei tanto lendo um livro em toda a minha curta vida de leitor. Pra vocês terem uma ideia, eu consegui derramar lágrimas na apresentação do livro, escrita por ninguém menos que Jurandir Filho, o todo-poderoso senhor do RapaduraCast. Mas, além de o fato de eu ser uma tremenda manteiga derretida pra qualquer coisa (o que invalida um pouco o meu argumento), é o que eu disse agora há pouco: é preciso ter um coração quente e o mínimo de empatia para sentir tudo o que Filhos do Fim do Mundo tem a oferecer. Mas isso se torna um pouco mais fácil quando os personagens da trama ajudam nesse processo. Olha que ligação maneira com o próximo "parágrafo"! Eu sou um gênio!

Ah, e depois de conectar tantas qualidades do livro e estabelecer um ritmo pro texto, eu ia me esquecendo da minha única ressalva em relação ao livro: o desfecho. Pode ficar tranquilo, não pretendo soltar spoilers sobre a trama, mas se você quer se manter livre de qualquer detalhe sobre o desfecho do livro, recomendo que pule esta parte. Mas enfim, continuemos. Da mesma forma que Filhos Fim do Mundo começa, ele também termina de uma maneira abrupta e um tanto quanto repentina. Não há problema algum — principalmente em uma obra de Ficção Científica — estabelecer um questionamento de maneira repentina no começo da trama, mas, pelo menos para este que vos escreve, é um problema, sim, termina-la de uma maneira abrupta, sem a resposta para aquela pergunta (ou aquelas perguntas) estabelecidas no início da trama. Claro, isso pode ser um gancho para uma possível sequência, mas — daqui em diante se torna algo totalmente pessoal, portanto, se você me ama, considere, ou, se você me odeia, ignore — Filhos do Fim do Mundo funciona tão bem como uma obra única, é tão redondo; que eu não consigo enxergar um motivo plausível para revisitar esse mundo somente para responder perguntas pendentes. Por mais que eu tenha simpatizado com aquele mundo, todos os seus personagens e suas respectivas trajetórias, eu não sinto vontade de voltar para lá. Não consigo ver o caminho adiante. É tipo aquele dito popular, "Foi bom enquanto durou", entende? Enfim, acho que algumas páginas a mais — no Epílogo do livro, quem sabe — poderiam esclarecer o desfecho abrupto da trama.



E aproveitando o gancho sobre os personagens de Filhos do Fim do Mundo deixado logo mais acima, falemos então dos indivíduos que compõem a trama do livro. Primeiramente, um detalhe bastante interessante do livro de Fábio M. Barreto é que todos os seus personagens (todos MESMO) não desprovidos de nome próprio, sendo representados e referindo-se uns aos outros somente pelo nome seus ofícios (O Repórter, ou O Blogueiro, ou O Governador, por exemplo) ou de suas qualidades na trama (como A Esposa e O Filho). Sinceramente, eu confesso à vocês que duvidava da capacidade do senhor Fábio Barreto de redigir um livro inteiro sem citar, uma vez sequer, o nome verdadeiro de um de seus personagens. Depois de ter lido o livro, me arrependo amargamente disso. Desculpa aí, Barretão, você é capaz sim! Voltando aos personagens, graças a estrutura narrativa que serve de base para o livro, que tem como uma de suas principais características uma atenção maior aos personagens que para a trama em si, é muito fácil simpatizar com os homens e mulheres que circundam o mundo caótico de Filhos do Fim do Mundo. Seja com o Padre, que retrata o ponto de vista da fé diante de uma acontecimento catastrófico, sempre com discussões relevantes entre crença e descrença; ou seja com o Blogueiro, que enxerga os acontecimentos ao seu redor de uma maneira conspiratória. Mas, em Filhos do Fim do Mundo, não há como negar que o Repórter é quem rouba a cena. Eu não conheço o autor pessoalmente, mas, enquanto estava lendo seu livro, apenas pelo pouco que conhecia dele, eu pude sentir que muito do que eu vi no Repórter — sua personalidade, seu modus operandi (olha que palavra bonita!) — era uma representação do próprio Fábio Barreto. É como se o Repórter fosse uma espécie de auto-retrato do autor. Não sei se essa teoria condiz com a realidade, mas pude deduzir isso não só pelo modo de agir do personagem principal, ou de sua personalidade, mas por um único e simples conceito incutido naquele personagem: o conceito de "fim do mundo". Para o Repórter (e isso não é nenhum spoiler), não há duvidas de que o fim do mundo seria a morte de seu filho. Acho que o mesmo se aplica ao senhor Barreto e sua pequena filha Ariel. E aí está a beleza desse grande personagem.


Bem, galerinha, acho que isso é tudo. Hora daquela boa e velha nota de sempre!

E aí está ela -> 9,0 / 10

Antes de qualquer outra coisa, Filhos do Fim do Mundo é uma experiência muito mais emocional que apenas literária. Uma vez ligado com aquela trama, é difícil controlar a vontade de seguir em frente a cada novo capítulo, não só pela estrutura narrativa envolvente e instigante, mas também pelo carisma dos personagens e de suas motivações. Minha única ressalva foi o desfecho repentino, deixando um possível gancho para uma próxima história. Particularmente, não vejo a necessidade de uma continuação, mas pode ter certeza de que, se houver uma, eu serei um dos primeiros a compra-la!

E isso é tudo, pessoal. Espero vê-los na Sessão de Autógrafos na Livraria Cultura. Até a próxima!

Por Breno Barbosa

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