Alô, mamãe? Tô precisando de um cachorro!
Olá mais uma vez, meus amores desocupados, tudo ok com vocês? E seus cachorrinhos, como estão? Hã? Você aí da ponta não tem um cachorrinho? Tudo bem, de qualquer jeito, como está seu pequeno mascote?
Enfim, bichinhos de estimação a parte, como vocês bem sabem, hoje é dia de post fresquinho aqui no Desocupado. Uma recomendação, um embate relativamente polêmico, um feedback de um evento ou até mesmo um Especial durante e a semana. Sim, essas são as possibilidades, meus caros desocupados, e elas estão sempre relacionadas a Quadrinhos, Cinemas, Games, Séries, Livros ou o que mais acharmos legal de trazer à vocês. E hoje, graças a minha mamãe, não será diferente!
Hoje trago a vocês Bidu: Caminhos, a mais nova HQ do selo Graphic MSP, ideia maluca e genial do editor-chefe da Maurício de Sousa Produções (corrijam-me se errei o cargo dele), Sidney Gusman, de jogar os personagens mais famosos (e até os menos conhecidos) de Maurício de Sousa nas mãos de diversos quadrinistas brasileiros a fim de que eles recriem, do seu próprio jeito, suas histórias. Artistas como Danilo Beyruth, Gustavo Duarte, Vitor e Lu Cafaggi e Chico Shiko já tiveram suas respectivas participações no Graphic MSP, mas em Caminhos, Eduardo Damascenos e Luís Felipe Garrocho tomam conta da parada.
Em Bidu: Caminhos, nós acompanhamos a saga de Bidu, um bravo e esperto cãozinho vira-lata que percorre as ruas do Limoeiro em busca de comida e tranquilidade; em sua busca por um lar, ao mesmo tempo que seguimos os passos de Franjinha, um garoto inteligente, porém solitário, que está em busca de um de um cachorro. Ou um robô. Ou simplesmente um amigo. Deu pra perceber que há uma conexão, não é? Mas será que eles conseguirão o que querem? Será que os caminhos de Bidu e Franjinha se cruzarão um dia?
Bem, acho que depois de dois posts sobre HQs lançadas sob este selo — Turma da Mônica: Laços e Piteco: Ingá —, creio que não preciso expressar mais uma vez minha admiração pelo selo Graphic MSP, muito menos dizer de novo que nunca fui fã da obra-prima de Maurício de Sousa, mas que morro de amores pelo Graphic MSP. O por quê disso, você pergunta? É algo bem particular. Diferente de algumas pessoas, eu gosto bastante de remakes, releituras e reimaginações, seja lá do que for. Adoro ver a interpretação de uma outra pessoa de um personagem de um livro, ou de como contar a história de um filme, coisas do tipo. Eu mesmo arranho algumas reinterpretações de personagens já existentes, do jeito que sei. Nisso, acho a ideia de dar uma nova roupagem aos personagens de Maurício de Sousa, tão queridos por fãs e não fãs de Quadrinhos, genial. Além de nos fazer ver esses personagens por um outro angulo, essa iniciativa também nos dá a chance de conhecer novos artistas, que sempre estiveram aí, mas que nós nunca prestamos atenção, erroneamente.
Como é o caso e Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho, dupla responsável não só pela arte, mas também pelo roteiro de Bidu: Caminhos. Damasceno e Garrocho trabalham juntos desde 2007, e mais uma vez uniram forças para dar vida à esta HQ. Não é a primeira vez que o Graphic MSP traz uma dupla para trabalhar em uma de suas HQs — Vitor e Lu Cafaggi foram os primeiros em Turma da Mônica: Laços —, mas é a primeira vez que uma dupla trabalha de uma maneira tão singular. Os traços de Lu e Vitor são bem semelhantes, mas com estilos diferentes, o que facilita a diferenciação da arte de cada um em Laços. Porém, em Bidu: Caminhos, é praticamente impossível dizer onde, exatamente, está Eduardo Damasceno ou Luís Felipe Garrocho. Eu fiz questão de pesquisar sobre os artistas um pouco antes de escrever este post, e notei que ambos possuem estilos bem diferentes. Ainda assim, eles conseguiram trabalhar juntos de maneira orgânica e natural, como se fossem um só — e isso não é de hoje, vale lembrar.
Saindo um pouco dos artistas e indo mais para arte em si, não tem como não se encantar pela arte de Bidu: Caminhos. A própria capa da HQ já é um deleite aos olhos, e atrai a atenção de qualquer um. Virando a página, dentro da revista, logo de cara, o que mais chama atenção são as cores. A escolha das cores por parte dos autores não podia ser melhor, e a paleta vai mudando de acordo com a atmosfera de cada cena, sempre levando em conta a iluminação do ambiente e o clima da situação em que se encontram os personagens. Seja numa manhã ensolarada e animada ou num dia triste e chuvoso, as cores sempre ditam muito bem o tom de Caminhos, além de encantarem quem lê. Você pode até ter visto muita coisa fofa nesse ano de 2014, mas pelo menos no que diz respeito a Quadrinhos, você não verá nada mais fofo que o traço usado em Bidu: Caminhos. Quem é um pouquinho mais familiarizado vai notar facilmente que o traço de Caminhos é totalmente digital, mas isso não tira nem um pouco da ternura e da simplicidade da história.
Outro detalhe interessante de Caminhos sãos os balões de fala e as onomatopeias. Os balões de fala dos personagens sempre são estilizados, com algumas curvinhas e saindo direto da boca dos personagens, mas não é só isso. Como o nome da própria HQ sugere, Bidu é o protagonista desta história, e como todos vocês bem sabem, cãezinhos não falam (o nosso idioma). Logo, fazendo a matemática, Bidu não fala. Pelo menos não do jeito convencional. O modo como foi desenvolvido o diálogo entre os cães é, com certeza, o suprassumo máximo de Caminhos. Mesmo sem usar de uma palavra sequer, é possível compreender totalmente o que cada cachorro está dizendo — e se divertir com que eles "falam". As onomatopeias também foram empregadas de maneira bem criativa, como se fizessem parte da ação dos personagens ou do cenário, as vezes até interferindo em algumas cenas.
Bidu: Caminhos possui uma narrativa interessante e diferente. Como leitores, vemos os acontecimentos sob o ponto de vista de Bidu, mas é franjinha quem nos conta essa história, narrando como e quando ele encontraria seu futuro melhor amigo. Porém, apesar de ter Franjinha como narrador, sua voz mal é ouvida (figurativamente falando, é claro) no decorrer da HQ. E pra falar a verdade, ela não se faz necessária, pois Bidu já nos mostra muito bem sua própria versão da história, mesmo sem proferir uma só palavra. Deu pra entender? Não? Ok, deixa eu tentar resumir, então: é Franjinha quem nos conta história de Caminhos, aos pouquinhos, mas é Bidu quem nos MOSTRA essa história. Melhor agora?
Apesar de ter uma narrativa legal, a única coisa que não me agradou muito em Bidu: Caminhos foi o roteiro. Mas não se confunda: a história em si é simples e cativante, mas o roteiro que a guia, pelo menos pra mim, não foi tão feliz assim. Por quê? É o que eu vou tentar explicar agora.
Grande parte das histórias com as quais estamos acostumados segue uma estrutura predefinida, um arco. Esse arco é que guia os acontecimentos dessa história: começo, meio, fim; início, jornada, conflito, superação, clímax e desfecho; primeiro, segundo e terceiro ato... existem várias denominações diferentes, mas basicamente, são esse elementos que caracterizam o arco de uma história. Eles servem pra tornar a leitura mais cativante, criando um ritmo e fazendo com o que o interesse do leitor vá aumentando gradualmente, a medida em que a história vai se desenrolando. Claro, essa estrutura não é necessariamente imutável, e os autores podem brincar com ela do jeito que quiserem. O importante é manter o espectador ligado na sua história.
Com isso em mente, Bidu: Caminhos não segue exatamente um arco pré-estabelecido. Bidu, como protagonista da história, não possui exatamente um objetivo, um destino, ou um caminho que deseja trilhar. O que se sucede em Caminhos é uma série de acontecimentos gerados ao "acaso", que vão levando Bidu a conclusão de sua história. Por um lado, é uma escolha interessante por parte dos autores, em não necessariamente prenderem sua história em uma estrutura predefinida; mas por outro, o interesse do leitor se mantém o mesmo durante a revista inteira. Não diminui, mas também não aumenta. A história não te deixa vidrado, ansioso pelo que está por vir, tornando o passar das páginas mais robótico do que natural. Isso não faz de Bidu: Caminhos uma HQ ruim, mas acaba tornando-a um pouco menos interessante de se acompanhar que algumas outras revistas do selo Graphic MSP.
Bem, galerinha, acho que já falei tudo que tinha pra falar. Sabem que horas são agora? Hora da Dona Nota, nossa velha e querida companheira de cada post!
E aí está ela -> 9.0 / 10
Bidu: Caminhos tem uma arte bonita e cativante, nascida do trabalho em equipe impecável da dupla Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho; mas acaba deixando um pouco a desejar no roteiro, que, apesar de ousar e não se manter preso ás estruturas com as quais estamos acostumados, acaba se tornando pouco interessante de se acompanhar, em fazer com o que o leitor fique curioso pelo desfecho; deixando a leitura um pouco menos natural e um pouco mais robótica.
"Entonce", se você tem alguns trocados sobrando na carteira e está afim de uma leitura leve, bacana e barata, não precisa pensar muito: vá de Bidu: Caminhos. E se aparecer uma verba extra, aproveite e leve as outras revistas da Graphic MSP. Não tem com o que se arrepender!
Isso é tudo, galerinha desocupada. No mais, fiquem com a bela arte-teaser de Bidu: Caminhos, divulgada no FIQ de 2013:
Um abraço e até a próxima!
Por Breno Barbosa
Como é o caso e Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho, dupla responsável não só pela arte, mas também pelo roteiro de Bidu: Caminhos. Damasceno e Garrocho trabalham juntos desde 2007, e mais uma vez uniram forças para dar vida à esta HQ. Não é a primeira vez que o Graphic MSP traz uma dupla para trabalhar em uma de suas HQs — Vitor e Lu Cafaggi foram os primeiros em Turma da Mônica: Laços —, mas é a primeira vez que uma dupla trabalha de uma maneira tão singular. Os traços de Lu e Vitor são bem semelhantes, mas com estilos diferentes, o que facilita a diferenciação da arte de cada um em Laços. Porém, em Bidu: Caminhos, é praticamente impossível dizer onde, exatamente, está Eduardo Damasceno ou Luís Felipe Garrocho. Eu fiz questão de pesquisar sobre os artistas um pouco antes de escrever este post, e notei que ambos possuem estilos bem diferentes. Ainda assim, eles conseguiram trabalhar juntos de maneira orgânica e natural, como se fossem um só — e isso não é de hoje, vale lembrar.
Saindo um pouco dos artistas e indo mais para arte em si, não tem como não se encantar pela arte de Bidu: Caminhos. A própria capa da HQ já é um deleite aos olhos, e atrai a atenção de qualquer um. Virando a página, dentro da revista, logo de cara, o que mais chama atenção são as cores. A escolha das cores por parte dos autores não podia ser melhor, e a paleta vai mudando de acordo com a atmosfera de cada cena, sempre levando em conta a iluminação do ambiente e o clima da situação em que se encontram os personagens. Seja numa manhã ensolarada e animada ou num dia triste e chuvoso, as cores sempre ditam muito bem o tom de Caminhos, além de encantarem quem lê. Você pode até ter visto muita coisa fofa nesse ano de 2014, mas pelo menos no que diz respeito a Quadrinhos, você não verá nada mais fofo que o traço usado em Bidu: Caminhos. Quem é um pouquinho mais familiarizado vai notar facilmente que o traço de Caminhos é totalmente digital, mas isso não tira nem um pouco da ternura e da simplicidade da história.
Outro detalhe interessante de Caminhos sãos os balões de fala e as onomatopeias. Os balões de fala dos personagens sempre são estilizados, com algumas curvinhas e saindo direto da boca dos personagens, mas não é só isso. Como o nome da própria HQ sugere, Bidu é o protagonista desta história, e como todos vocês bem sabem, cãezinhos não falam (o nosso idioma). Logo, fazendo a matemática, Bidu não fala. Pelo menos não do jeito convencional. O modo como foi desenvolvido o diálogo entre os cães é, com certeza, o suprassumo máximo de Caminhos. Mesmo sem usar de uma palavra sequer, é possível compreender totalmente o que cada cachorro está dizendo — e se divertir com que eles "falam". As onomatopeias também foram empregadas de maneira bem criativa, como se fizessem parte da ação dos personagens ou do cenário, as vezes até interferindo em algumas cenas.
Bidu: Caminhos possui uma narrativa interessante e diferente. Como leitores, vemos os acontecimentos sob o ponto de vista de Bidu, mas é franjinha quem nos conta essa história, narrando como e quando ele encontraria seu futuro melhor amigo. Porém, apesar de ter Franjinha como narrador, sua voz mal é ouvida (figurativamente falando, é claro) no decorrer da HQ. E pra falar a verdade, ela não se faz necessária, pois Bidu já nos mostra muito bem sua própria versão da história, mesmo sem proferir uma só palavra. Deu pra entender? Não? Ok, deixa eu tentar resumir, então: é Franjinha quem nos conta história de Caminhos, aos pouquinhos, mas é Bidu quem nos MOSTRA essa história. Melhor agora?
Apesar de ter uma narrativa legal, a única coisa que não me agradou muito em Bidu: Caminhos foi o roteiro. Mas não se confunda: a história em si é simples e cativante, mas o roteiro que a guia, pelo menos pra mim, não foi tão feliz assim. Por quê? É o que eu vou tentar explicar agora.
Grande parte das histórias com as quais estamos acostumados segue uma estrutura predefinida, um arco. Esse arco é que guia os acontecimentos dessa história: começo, meio, fim; início, jornada, conflito, superação, clímax e desfecho; primeiro, segundo e terceiro ato... existem várias denominações diferentes, mas basicamente, são esse elementos que caracterizam o arco de uma história. Eles servem pra tornar a leitura mais cativante, criando um ritmo e fazendo com o que o interesse do leitor vá aumentando gradualmente, a medida em que a história vai se desenrolando. Claro, essa estrutura não é necessariamente imutável, e os autores podem brincar com ela do jeito que quiserem. O importante é manter o espectador ligado na sua história.
Com isso em mente, Bidu: Caminhos não segue exatamente um arco pré-estabelecido. Bidu, como protagonista da história, não possui exatamente um objetivo, um destino, ou um caminho que deseja trilhar. O que se sucede em Caminhos é uma série de acontecimentos gerados ao "acaso", que vão levando Bidu a conclusão de sua história. Por um lado, é uma escolha interessante por parte dos autores, em não necessariamente prenderem sua história em uma estrutura predefinida; mas por outro, o interesse do leitor se mantém o mesmo durante a revista inteira. Não diminui, mas também não aumenta. A história não te deixa vidrado, ansioso pelo que está por vir, tornando o passar das páginas mais robótico do que natural. Isso não faz de Bidu: Caminhos uma HQ ruim, mas acaba tornando-a um pouco menos interessante de se acompanhar que algumas outras revistas do selo Graphic MSP.
Bem, galerinha, acho que já falei tudo que tinha pra falar. Sabem que horas são agora? Hora da Dona Nota, nossa velha e querida companheira de cada post!
E aí está ela -> 9.0 / 10
Bidu: Caminhos tem uma arte bonita e cativante, nascida do trabalho em equipe impecável da dupla Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho; mas acaba deixando um pouco a desejar no roteiro, que, apesar de ousar e não se manter preso ás estruturas com as quais estamos acostumados, acaba se tornando pouco interessante de se acompanhar, em fazer com o que o leitor fique curioso pelo desfecho; deixando a leitura um pouco menos natural e um pouco mais robótica.
"Entonce", se você tem alguns trocados sobrando na carteira e está afim de uma leitura leve, bacana e barata, não precisa pensar muito: vá de Bidu: Caminhos. E se aparecer uma verba extra, aproveite e leve as outras revistas da Graphic MSP. Não tem com o que se arrepender!
Isso é tudo, galerinha desocupada. No mais, fiquem com a bela arte-teaser de Bidu: Caminhos, divulgada no FIQ de 2013:
Um abraço e até a próxima!
Por Breno Barbosa
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