"Ferro do Gelo!"
É, não é tão legal assim em português...
Saudações, desocupados dos 7 Reinos de Westeros, tudo em paz com vocês?
Como já é bem sabido entre vocês, quando o fim de semana chega, a nossa patrulha começa. Nós não nos divertiremos (mentira), não descansaremos (mentira também) e não desviaremos nossa atenção do trabalho (mais mentira ainda) até que o post da semana esteja pronto. Games, Cinema, Quadrinhos, Séries, Livros e o que mais acharmos interessante, por este dia, e por todos os dias que virão. Até a gente cansar, é claro.
Nesta semana, trago à vocês Game of Thrones! Não, não a série de TV da HBO, mas sim a série jogável desenvolvida pela Telltale Games. A 1ª Temporada conta com 6 episódios, tendo início em Dezembro de 2014, com o título Iron From Ice, e término recente, no dia 17 de Novembro de 2015, com o episódio The Ice Dragon. O game pode ser encontrado em uma infinidade de plataformas: PC, OS X, iOS, Android, Xbox 360, Xbox One, PlayStation 3 e PlayStation 4. Mais uma vez, a Nintendo fica de fora da festinha...
Baseado no universo da adaptação para TV produzida pela HBO, Game of Thrones: A Telltale Games Series segue as crônicas da Família Forrester, uma casa do Norte de Westeros, vassalos à Grande Casa dos Stark. Sob o ponto de vista dos principais descendentes dos Forrester — os irmãos Ethan, Rodrik, Asher e Mira, além do escudeiro Gared —, você deverá guiar a sua Casa por entre crises, guerras e intrigas, através de quaisquer meios necessários.
Sabe quando você é criança, está assistindo um show de mágica e fica surpreso, fascinado e cada vez mais ansioso a cada truque que vê? São sentimentos bem bacanas, não é? Você fica se perguntando "Nossa, como será que esse cara fez isso?!", ou pensando "Só pessoas como ele são capazes de fazer essas coisas maravilhosas!". Mas um dia, um amigo chega pra você no colégio dizendo que aprendeu a fazer aquele truque de mágica que vocês viram na festinha da semana passada. Primeiro você diz "Claro que você não aprendeu, seu babaca!", mas logo depois você pede pra que ele prove o que está falando. Daí, o seu amigo reproduz a mágica na sua frente, tal qual vocês viram na festinha, e logo depois te ensina faze-la. Mas aí, todo aquele fascínio, toda aquela ansiedade e toda aquela surpresa foram embora, porque agora você sabe como a mágica foi feita — e também porque você descobriu que aquele maldito babaca de cartola estava te enganando o tempo todo.
Foi mais ou menos assim que me senti ao final da minha segunda jogatina de Game of Thrones (o jogo, não a série): enganado por aqueles malditos babacas de cartola. Ops, não pera...
Falando assim, parece até que eu fui vítima de propaganda enganosa ao comprar jogo, mas calma, não foi exatamente isso. Vou tentar me explicar nestes próximos parágrafos.
Primeiramente, é bom fazer uma ligeira apresentação da desenvolvedora por trás do jogo, a Telltale Games. Pra quem não conhece, a Telltale é famosa criar jogos no estilo Point and Click, onde, basicamente, o jogador deve resolver quebra-cabeças, explorar cenários e tomar decisões através do sistema de apontar e clicar. Além de reviver este estilo de jogo há muito enterrado, a Telltale também traz como diferencial um sistema de tomada de decisões que pode alterar as conclusões de suas histórias. Através das suas escolhas, personagens viver ou morrer, mistérios podem ser resolvidos ou continuar nas sombras, e assim sucessivamente. Além disso, a Telltale Games também costuma lançar seus games em um formato episódico, como se fosse uma série de televisão — só que com os episódios bem distantes uns dos outros, pra aumentar a sua agonia.
Ok, apresentações feitas. Onde é que eu estava mesmo? Ah, sim, eu tinha sido enganado!
Um dos grandes trunfos de jogos que têm como principal apelo a tomada de decisões é a ilusão da escolha. Sim, meus caros desocupados, ilusão. A todo momento, a ilusão do "Você faz sua própria História" se faz presente nesses games. Não que o jogo esteja mentindo para você, prometendo caminhos e conclusões diferentes e quebrando a promessa, mas algumas — se não muitas — das guinadas e alterações que a história pode ter, de acordo com as suas decisões, são na verdade arbitrárias. Afinal, ainda não é possível criar um caminho diferente pra cada resposta que você dá durante esses jogos. O que é preciso estar presente é a ilusão da escolha, o sentimento de que, se você voltar àquela cena e dar uma resposta diferente àquela pergunta, aquele personagem querido talvez não vá embora, ou aquele item que você procurava seja finalmente seu.
Tendo jogado alguns (poucos) jogos da Telltale Games — este e The Wolf Among Us —, acho que posso afirmar que a desenvolvedora trabalha muito bem a ilusão da escolha em seus jogos, mas que especificamente em Game of Thrones (o jogo, não a série), a ênfase da palavra "ilusão" é ainda maior que em outros títulos.
Como eu disse um pouquinho mais lá em cima, eu joguei Game of Thrones (o jogo, não a série) duas vezes. O jogo realmente me capturou da primeira vez. A aflição de ter perdido personagens por ter tomado as decisões erradas, o sentimento de "isso não vai prestar" ao final de cada episódio, a curiosidade de saber não onde aquela história iria me levar, mas sim de saber quais seriam as minhas próximas escolhas e suas respectivas consequências. Tudo isso tendo como pano de fundo o universo de Game of Thrones (a série, não o jogo), que eu tanto amo. Foi realmente fascinante e aterrador me aventurar na pele dos Forresters.
Porém, a curiosidade de conhecer os caminhos alternativos daquela história foi maior, e eu quando me dei conta, lá estava eu, começando o game de novo. E foi aí que a mágica perdeu o encanto. Tentei tomar o maior número de decisões diferentes em relação a minha primeira jogatina. Infelizmente, pouca delas resultaram em uma conclusão diferente da interior. Até mesmo as decisões mais grandiosas, que, teoricamente, alterariam totalmente o fim da história, resultavam num ponto comum. Foram poucas as escolhas que realmente deixaram um impacto considerável nas histórias que estão por vir — afinal, a Telltale confirmou recentemente estar desenvolvendo a 2ª Temporada de Game of Thrones (o jogo, não a série).
O game emprega muito bem a ilusão da escolha no decorrer dos seus episódios — tudo bem, isso é algum realmente bom, mas o problema começa quando a "ilusão da escolha" é muito mais "ilusão" do que "escolha". Pra quê se dar ao trabalho de fazer um game que me promete tecer a história de acordo com as minhas decisões, se no final todas elas findarão no mesmo lugar, com a diferença de alguns mínimos detalhes? Isso acaba tornando as escolhas do jogador irrelevantes, faz com que elas pareçam uma perca de tempo. E ninguém curte perder tempo.
Infelizmente, este não é o meu único problema com o Game of Thrones da Telltale Games.
Dentre toda uma gama de personagens oferecidos pelo game, apenas um realmente me interessou. Todos os outros pareciam vazios, com pouquíssima ou até mesmo nenhuma personalidade, ao ponto de me fazer querer pular os capítulos de alguns deles. Sim, eu estou falando de você, Mira Forrester. A dublagem do game também não ajuda muito nesse processo. Algumas das atuações não parecem convincentes, dando pouca emoção às ações e expressões dos personagens na tela, enquanto outras performances dão expressão até demais, chegando a gritar frases que normalmente seriam ditas em um tom normal.
Superficialmente, o visual de Game of Thrones (o jogo, não a série) é bem interessante. Os personagens e cenários parecem saídos de uma pintura em aquarela, e suas estéticas parecem verossímeis dentro do universo da série. Os problemas só surgem quando você começa a apertar os olhos para prestar atenção aos detalhes. É aí que surgem erros de continuidade, slowdowns, erros de animação... Foi revoltantemente engraçado contar quantas espadas surgiam na bainha de Gared, mesmo logo depois de ele a ter perdido em uma batalha.
Em compensação, as sequências de ação são divertidas e bem coreografadas — mesmo que todas elas sejam Quick-Time Events, onde você só precisa apertar os botões que aparecem na tela na hora certa e clicar onde o jogo manda. Apesar disso, as cenas são empolgantes e cheias de sangue, como manda o figurino em Game of Thrones.
Normalmente, aqui eu falaria da trilha sonora, mas em Game of Thrones (o jogo, não a série) ela é praticamente inexistente. Salvas algumas faixas aqui e acolá, em momentos chaves, o game se desenrola num silêncio só. Pelo menos temos o tema de abertura da série pra tapar o buraco. Neste quesito, não faz muito sentido por a culpa no jogo, já que 90% dele é ocupado pelos diálogos entre os personagens. Portanto, dá pra fazer vista grossa.
Bem, acho que já desabafei tudo que tinha guardado sobre Game of Thrones (o jogo, não a série). Hora daquela boa e velha nota de cada post, não é mesmo?
E aí vai ela -> 7.0 / 10
Game of Thrones: A Telltale Game Series é uma experiência bem interessante, mas para uma única playthrough. A partir do momento em que você, jogador desocupado, começa a se desprender da ilusão da escolha, a experiência começa a se tornar arbitrária e pouco recompensante. A maioria dos personagens é pouco cativante e a trilha sonora é praticamente inexistente, mas o visual e as sequências de ação fazem a jogatina ficar interessante e divertida.
Então, se você está procurando um game bacana pra dedicar as próximas horas da sua vida, talvez — mas só Talvez — Game of Thrones (o jogo, não a série) seja uma boa pedida.
E isso é tudo por hoje, galerinha.
Um abração e até mais!
Por Breno Barbosa
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