domingo, 28 de fevereiro de 2016

Cinema - Esquecidos pelo Oscar 2016


Ou pelo menos alguns deles.




Salve salve, galerinha desocupada! Tudo em paz com vocês?

E é chegado mais um domingo! E com ele, a parte mais feliz do fim de semana — isto é, se você não tem absolutamente nada melhor pra fazer que ficar vagando pela internet. Já sabe qual é? Eu sei que você sabe, mas mesmo assim, vale a pena dizer: a parte mais feliz do fim de semana é esta aqui, um post novinho em folha aqui no Desocupado! Cinema? Quadrinhos? Games? Séries? Livros? Não importa! O que importa é que toda semana estamos aqui, e hoje não é diferente!

Como alguns de vocês já devem saber, este não é exatamente um domingo qualquer, principalmente para os aficcionados em Cinema. Caso você faça parte da patota dos que não sabem, este domingo, dia 28 de Fevereiro, é a data em que ocorrerá a cerimônia do Oscar 2016 — ou, como é chamado na gringa, o Academy Awards 2016.

Este ano, assim como em muitos antes deste, a qualidade dos filmes é semi-incontestável, mas sempre é inevitável que algumas obras igualmente excelentes acabem ficando de fora. Nunca se sabe se é porque os jurados os julgaram "indignos" da premiação, ou se há qualquer outro motivo por trás da ausência desses filmes, mas não estamos aqui para discutir isso. Estamos aqui para mostrar pelo menos um pouquinho de amor e justiça à estes bravos competidores que não chegaram lá, mas que com certeza merecem. Pelo menos à alguns deles.

Sem mais delongas, vamos nessa!


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- Creed: Nascido Para Lutar


O que há para não gostar em filme de boxe, senhorinhas e senhorezinhos do Oscar? Ainda mais um filme de boxe cheio de raça e excelência como Creed?

Com estreia original em 25 de Novembro de 2015, Creed: Nascido Para Lutar só chegou em terras tupiniquins em 14 de Janeiro de 2016. Sob a direção do novato Ryan Coogler (este o segundo longa de sua carreira), Creed conta a história de Adonis Johnson, um jovem que larga a vida corporativa para dedicar-se unica e inteiramente a sua grande paixão: o boxe. Porém, apenas talento e legado de família não são o suficiente, e em sua jornada ao sucesso, Donnie conta com a ajuda de ninguém menos que o lendário campeão Rocky Balboa.

Alguns de vocês devem estar se perguntando: "Hey, por que Creed está nesta lista?" — e com razão, afinal, Creed não está exatamente fora do Oscar 2016. O ator Sylvester Stallone concorre ao prêmio de Melhor Ator Coadjuvante por seu papel no filme, mas acredite: há muito mais em Creed que apenas um ótimo coadjuvante. Se eu tivesse que resumir o que acho de Creed em termos clichê, eu diria que este é um filme que possui doses muito bem equilibradas de cérebro e músculos. A parte dramática da história cativa fácil e emociona bastante, seguindo em um ritmo agradável de se acompanhar. Em perfeita sobreposição, a ação do filme é bastante empolgante, com lutas críveis e bem coreografadas, retratadas através de uma fotografia bastante interessante, cheia de câmeras giratórias e planos sequência. Não houve uma luta em que eu não estivesse com rosto quase entrando na tela — e o bumbum na pontinha da cadeira (detalhe desnecessário) —, assim como foram poucos os momentos em não fiquei com os olhos marejados. A qualidade, tanto da atuação quanto do personagem de Sylvester Stallone, é inegável, mas o protagonista Michael B. Jordan também não fica para trás. Ambos entregam ótimas atuações, em papéis que conversam, se complementam, durante todo o filme. Para este que aqui vos fala, escolher um sem levar o outro é — em uma péssima analogia alimentícia — como comer um misto quente sem o queijo, ou sem o presunto. É incompleto, falta alguma coisa.


Com um perfeito equilíbrio entre ação e drama, uma história cativante e fácil de se acompanhar, e um par de atuações excelentes, Creed: Nascido Para Lutar pode ter sido esnobado pelo Oscar, mas com certeza não deve ficar de fora da sua lista.


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- Straight Outta Compton: A História do N.W.A.


Não sei quanto a vocês, galerinha desocupada, mas Rap não é muito a minha praia. Particularmente, eu sou mais chegado em Rock, e até em um pouco de Pop, de quando em vez. Porém, não tem como não se interessar ao menos um pouco pela história desse gênero musical depois de Straight Outta Compton — assim como é difícil não se deixar levar pelo som da galera do N.W.A.

Straight Outta Compton: A História do N.W.A. foi lançado originalmente em 11 de Agosto de 2015, e teve sua estreia no Brasil em 28 de Outubro do mesmo ano. No filme, sob a direção de F. Gary Gray, acompanhamos a trajetória dos jovens Eazy-E, DJ Yella, Ice Cube, Dr. Dre e MC Ren, que juntos, viriam a formar o famoso e polêmico grupo Niggaz Wit Attitudes, mais conhecido como N.W.A.

E aqui nos deparamos com mais uma pequena controvérsia. Assim como Creed, Straight Outta Compton não está exatamente fora do Oscar 2016. O filme concorre ao prêmio de Melhor Roteiro Original, mas também como no caso anterior, há muito mais em Straight Outta Compton que apenas um bom roteiro. Há diferentes camadas dentro da trama de Straight Outta Compton, cada uma com sua respectiva mensagem e discussão levantada, abordando problemáticas como liberdade de expressão, preconceito e "glamourização" da violência — dentre outros temas que permanecem relevantes ainda nos dias de hoje. Porém, todas essas questões são retratadas de uma forma tão intrínseca que é difícil discuti-las separadamente. Straight Outta Compton realmente te põe pra pensar nessas questões durante toda sua duração, e as suas conclusões podem mudar inteiramente o modo como você vê a história dos personagens em tela. Além de levantar discussões multilaterais bastante interessantes, Straight Outta Compton também conta com um elenco de ótima qualidade. É possível notar que os atores estão bastante confortáveis em seus respectivos papéis. Dentre eles, não há como deixar de destacar o Ice Cube de O'Shea Jackson Jr. (curiosamente, filho do próprio Ice Cube), o Dr. Dre de Corey Hawkins e o Eazy-E de Jason Mitchell. Meu único problema com o Straight Outta Compton é a sua duração. São quase três horas filme, e apesar de a trama ir se expandindo de uma maneira bacana no seu decorrer, a experiência tende a ficar um tanto cansativa em alguns momentos.


Straight Outta Compton: A História do N.W.A. vai bem além de uma simples cinebiografia de alguns artistas antigos. O filme levanta discussões contundentes e traz mensagens relevantes ainda nos dias hoje, e certamente não deve ficar de fora da sua listinha de filmes.


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- Beasts of No Nation


Ambos os filmes sobre o qual conversamos até agora são igualmente dignos de um reconhecimento maior por parte do Oscar, mas talvez nenhum deles tenha sido tão merecedor quando Beasts of No Nation — e certamente, nenhum deles foi tão injustiçado quanto este.

Uma produção original da Netflix, dirigida e roteirizada por Cary Joji Fukunaga, baseado no livro homônimo de Uzodinma Ieweala, Beasts of No Nation estreou ao redor do mundo através do serviço de streaming em 16 de Outubro de 2015. O filme narra a história de Agu, um garoto africano que possuía uma vida comum, até separar-se repentinamente de sua família após o ataque de um grupo militar rebelde. Perdido e sem rumo, Agu se vê forçado a sobreviver em meio a um esquadrão de guerrilha, vivenciando a cada dia mais a realidade da guerra.

Diferente de Creed e Straight Outta Compton, Beasts of No Nation não teve nenhuma representação no Oscar 2016, mas tal qual os exemplos anteriores, definitivamente, não foi por falta de merecimento. Uma das maiores particularidades de Beasts of No Nation é a capacidade que o filme tem de fazer com que o espectador se sinta desconfortável de diferentes maneiras. Seja através de algo que está acontecendo na tela, ou de algo que a trama deixou subentendido em determinado momento, Beasts of No Nation nunca falha em deixar um gosto amargo na sua boca, até mesmo depois do final. E neste caso, por incrível que pareça, não é algo ruim. Todo esse desconforto serve para nos mostrar que, apesar de ser claramente um trabalho de ficção, Beasts of No Nation retrata alguns tratos da realidade que muitos de nós nem imaginávamos serem possíveis. O conceito de crianças lutando em guerras em um país divido por facções militares, por exemplo, parece bastante improvável para muitos de nós, quase coisa de outro mundo, mas por incrível que pareça, há um fundo de realidade em tudo isso. Nada disso seria possível sem um roteiro crível e bem amarrado, uma direção firme e atuações de primeira. O pequeno Abraham Attah se sai muito bem no papel de Agu, mas o destaque definitivamente vai para o Comandante de Idris Elba. O ator realmente abraça o personagem com tudo, entregando não só uma ótima performance, mas também um personagem interessante e intrigante de se assistir.


Beasts of No Nation com certeza não é muito indicado para aqueles mais sensíveis, de estômago muito fraco. O filme levanta reflexões de uma maneira desconfortável, tanto através de elementos visuais quanto de artifícios de roteiro, e, através da ficção, mostra aos espectadores uma realidade bastante complicada e pouco conhecida. Mesmo assim, vale muitíssimo a pena incluir Beasts of No Nation na sua lista.


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Ufa! Acho que isso é tudo!

E aí, galerinha desocupada, notaram alguma coisa em comum nesses filmes? Não? Ok, vou dar um tempinho pra vocês pensarem. Hum... Pronto, acho que é o bastante. E aí, perceberam algo? Ainda não? Pois bem, vamos lá, então. Caso vocês não tenham percebido, todos os filmes citados neste post são — entre muitas aspas — "filmes negros". Todos as obras das quais falei aqui foram concebidas, em alguma escala, por artistas afrodescendentes — atores, diretores, roteiristas, fotógrafos, e por aí vai. Alguns desocupados com certeza já haviam observado isso antes, mas caso você não tenha, procure dar uma pesquisada nos indicados ao Academy Awards deste ano. Pesquisou? Notou alguma coisa em comum entre eles? Exatamente, meus caros desocupados, praticamente todos eles, desde atores à diretores e produtores, são "brancos". Não há praticamente nenhum artista negro concorrendo à premiação, e se há — eu sempre posso estar errado —, são pouquíssimos. E vale citar: este é o segundo ano seguido em que isso acontece.

Mas então, o que houve? Foi a coincidência de não haver filmes bons o suficientes para a premiação que possuíssem artistas afrodescendentes? Como você pôde ver neste post, esse definitivamente não foi o caso. Houve talento pra dar e vender neste ano passado, e nós, espectadores desocupados, pudemos ver isso. Os jurados do Oscar são racistas, então? Bem, eu não quero apontar dedos para ninguém, mas dá uma olhada nessa foto — retirada direto do site oficial do Oscar 2016:


Não há muita diversidade, não é? A verdade é que o problema está muito além da Academia em si. A própria indústria cinematográfica — principalmente a indústria norte-americana — não se preocupa em trabalhar a diversidade, ou em oferecer oportunidades para qualquer tipo de minoria. E quanto mais pensamos nisso, mais esse problema vai se tornando mais profundo, mais enraizado dentro da sociedade.

Mas até aí — voltando para o assunto do Oscar —, eu me pergunto: realmente vale a pena ter o reconhecimento de uma bancada de jurados que já admitiram não assistir alguns dos filmes que indicam, ou até mesmo indicarem filmes somente por terem se interessado pelo material promocional (posters, trailers, etc.)? E sim, isso é sério. A infeliz verdade é que esse reconhecimento é, e continuará sendo, extremamente influente na indústria.

Isso significa que eu estou dizendo para vocês, desocupados, boicotarem o Oscar e não assistirem a cerimônia? De maneira alguma! Apesar dos pesares, todos os artistas lá presentes são totalmente merecedores de suas respectivas indicações. Este que aqui vos fala, inclusive, estará na torcida por George Miller e seu Mad Max: Estrada da Fúria — especialmente nas categorias técnicas — e, é claro, pelo Leonardo DiCaprio. Porque convenhamos: já tá mais do que na hora de o cara levar um careca dourado pra casa!

Bem, galerinha, isso é tudo por hoje. Peço desculpas por mais um post gigantesco, e sei que levantar essas discussões nunca foi exatamente a praia do Desocupado — sempre fizemos algo mais descontraído e pessoal, mas neste caso, me senti bastante inclinado a abordar o assunto de algum jeito. Espero que entendam e que tenham curtido as indicações!

Um abraço, e até mais!

Por Breno Barbosa

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